O teste, desenvolvido por cientistas da University College London, pode ajudar na prescrição de tratamentos precoces e preventivos
Por CNN Brasil
Um exame de sangue desenvolvido por cientistas da University College London (UCL) e do University Medical Center Goettingen utiliza inteligência artificial (IA) para prever a doença de Parkinson até sete anos antes do início dos sintomas. A pesquisa com os resultados do teste foi publicada na revista científica Nature Communications na terça-feira (18).
O Parkinson é uma doença progressiva do sistema nervoso que afeta, principalmente, os movimentos do paciente. A condição é caracterizada por tremores, rigidez muscular, dificuldade de andar e de falar, lentidão nos movimentos e perda de equilíbrio. No Brasil, a estimativa é de que a doença atinja cerca de 200 mil pessoas.
A condição é causada pela morte de células nervosas responsáveis por produzir dopamina, que estão localizadas em uma região do cérebro que controla o movimento. Segundo os pesquisadores, o diagnóstico precoce e a previsão do Parkinson podem ser valiosos para encontrar tratamentos que possam retardar ou cessar a doença, protegendo as células cerebrais produtoras de dopamina.
“À medida que novas terapias se tornam disponíveis para tratar o Parkinson, precisamos diagnosticar os pacientes antes que eles desenvolvam os sintomas. Não podemos regenerar as nossas células cerebrais e, portanto, precisamos proteger aquelas que temos”, explica Kevin Mills, do Instituto de Saúde Infantil da UCL Great Ormond Street, em comunicado à imprensa.
Diante disso, os pesquisadores decidiram usar um tipo de inteligência artificial chamado aprendizado de máquina para analisar um painel de oito biomarcadores sanguíneos cujas concentrações são alteradas em pacientes com Parkinson. Segundo o estudo, a análise da IA poderia fornecer um diagnóstico da doença com 100% de precisão.
A equipe, então, realizou experimentos para entender se um teste utilizando essa IA poderia prever a probabilidade de uma pessoa desenvolver Parkinson. Para isso, analisaram o sangue de 72 pacientes com Transtorno Comportamental de Movimento Rápido dos Olhos (iRBD).
Esse distúrbio faz com que os pacientes representem fisicamente seus sonhos de forma inconsciente e, segundo evidências atuais, cerca de 75-80% das pessoas com essa condição desenvolverão distúrbios cerebrais causados pela acumulação anormal de proteína alfa-sinucleína nas células cerebrais, incluindo o Parkinson.
Segundo os pesquisadores, quando a IA analisou o sangue desses pacientes, identificou que 79% deles tinham o mesmo perfil de uma pessoa com Parkinson. Depois disso, os pacientes foram acompanhados por um período de 10 anos e as previsões feitas pela IA corresponderam à taxa de conversão clínica — ou seja, a equipe conseguiu prever corretamente que 16 pacientes desenvolveriam Parkinson com até sete anos antes do início de quaisquer sintomas.
A equipe segue acompanhando o restante dos pacientes com previsão de desenvolver Parkinson, conforme a análise da IA, para verificar ainda mais a precisão do teste.
“Ao determinar 8 proteínas no sangue, podemos identificar potenciais pacientes com Parkinson com vários anos de antecedência. Isso significa que as terapias medicamentosas poderiam ser administradas em um estágio anterior, o que poderia retardar a progressão da doença ou até mesmo impedir que ela ocorresse”, diz Michael Bartl, coautor do estudo e pesquisador da University Medical Center Goettingen.
“Além de desenvolvermos um teste, podemos diagnosticar a doença com base em marcadores que estão diretamente ligados a processos como inflamação e degradação de proteínas não funcionais. Portanto, esses marcadores representam possíveis alvos para novos tratamentos medicamentosos”, completa.
Agora, a equipe de pesquisadores está examinando a precisão do teste ao analisar amostras da população que apresenta alto risco de desenvolver Parkinson, como pessoas com mutações nos genes “LRRK2” e “GBA”, que causam doença de Gaucher. Os cientistas também esperam conseguir financiamento para criar um exame de sangue mais simples, onde uma gota de sangue pode ser localizada em um cartão e enviada ao laboratório para investigação.
“Com mais trabalho, pode ser possível que este teste de sangue possa distinguir entre Parkinson e outras condições que têm algumas semelhanças iniciais, como atrofia de múltiplos sistemas ou demência com corpos de Lewy”, avalia David Dexter, diretor de pesquisa da Parkinson’s UK, no Reino Unido.
Foto: Thana Prasongsin/Getty Images