A maioria das doenças fatais desenvolvidas durante a velhice são impulsionadas por fatores de risco ligados a uma vida não saudável. Isso significa que mudanças de rotina podem possivelmente evitá-las
Por Revista Galileu
O estilo de vida de uma pessoa influencia mais as chances de ela desenvolver problemas que ocasionem em morte prematura do que outros fatores, como a sua genética. É o que descobriu um novo estudo, assinado por uma equipe de pesquisadores de instituições da Europa e EUA.
Os resultados da pesquisa, que considerou informações de quase 500 mil pessoas do Reino Unido retirados de um banco de dados de saúde, foram publicados nesta quarta-feira (19) em um artigo na revista Nature Medicine.
A pesquisa destaca a influência da “expossoma” no envelhecimento e no surgimento de doenças crônicas. Essa expressão envolve conjunto de influências do ambiente que uma pessoa sente ao longo da vida. Entram aqui, por exemplo, desde o hábito de fumar dos pais quando na infância até os comportamentos sedentários da idade adulta.
“No caso de muitos problemas de saúde, a expossoma realmente é um fator que impulsiona riscos”, explica Austin Argentieri, autor do projeto, ao jornal The Guardian. “Por isso, acreditamos que investimentos em entender e modificar esses ambientes provavelmente terão um impacto profundo na melhoria do bem-estar de todos”.
Exposições ambientais mais perigosas
Ao todo, os investigadores avaliaram os riscos de 164 exposições ambientais em relação à morte prematura por doenças. Eles consideravam fatores dos mais subjetivos, como conviver com um parceiro, até aqueles comumente associados a problemas de saúde, como a ingestão de sódio em excesso.
Depois de excluir exposições diretas a doenças ou outros elementos que poderiam simplesmente refletir outros fatores, a equipe ficou com 85 exposições ambientais. Assim, fizeram uma análise mais aprofundada de cada uma, tendo como base as proteínas presentes em seu sangue (as quais, naturalmente, atuam como marcadores biológicos do envelhecimento).
Vale salientar que o consumo de álcool e outros aspectos de dieta não estavam entre as exposições mais prejudiciais. Porém, os especialistas sugerem que isso é apenas uma consequência das dificuldades em investigar tais fatores por meio de questionários, a metodologia empregada pelo banco de dados utilizado.
Em uma análise aprofundada do assunto, a equipe apontou que a idade e o sexo explicaram cerca de metade da variação no risco de morte prematura, enquanto as 25 exposições ambientais juntas explicaram 17% adicionais da variação. Em contraste, a predisposição genética para doenças principais explicou menos de 2% da variação adicional.
Isso significa que as exposições ambientais se mostraram quase 10 vezes mais importantes do que os genes para explicar por que certas pessoas têm maior risco de desenvolver doenças que causam morte prematura. Os problemas de saúde incluem distúrbios nos pulmões, coração e fígado.
No que se refere especificamente aos quadros de câncer de mama e próstata ou à demência, contudo, os cientistas verificaram uma tendência contrária do que se viu como “regra”. O risco genético aparece como de maior importância, em comparação ao estilo de vida.
Expectativas e limitações do estudo
“Fornecemos algumas das primeiras evidências de um estudo bem poderoso para mapear todas as exposições que influenciam o envelhecimento no nível biológico”, afirma Argentieri. “Nós mostramos ainda que essas exposições estão ligadas a todo o processo de envelhecimento na vida adulta, pois estão associadas a mecanismos biológicos importantes do envelhecimento, risco futuro de doenças relacionadas à idade e mortalidade”.
Mas o estudo ainda tem limitações. Isso inclui o fato de que os resultados podem ser diferentes em outros países, as exposições ambientais foram medidas apenas em um momento, as associações levantadas refletem causa e efeito, e pode haver exposições ambientais que não foram consideradas.
Apesar disso, a pesquisa apoia propostas anteriores, as quais já demonstravam que, na maioria dos casos, os genes não determinam necessariamente a expectativa de vida de alguém. Por mais que possa influenciar um problema ou outro, no geral, existe uma grande janela de oportunidade para as pessoas adotarem boas práticas preventivas e envelhecerem de forma mais saudável.
Foto: Pexels