Pesquisadores da Universidade de Nova York (NYU) desenvolveram um exame, o PCR digital de gota ultrarrápida, ou UR-ddPCR, que avalia as células tumorais em um tempo mínimo. A ferramenta é prática e de fácil uso
Por Correio Braziliense
Diversos tipos de câncer podem ser identificados a partir das mutações no DNA de células atingidas. Agora, uma equipe liderada pela Universidade de Nova York (NYU) desenvolveu um exame chamado PCR digital de gota ultrarrápida, ou UR-ddPCR, que avalia as células tumorais em uma amostra de tecido em somente 15 minutos. Conforme os cientistas, a ferramenta ajudará a tornar as cirurgias de retirada de tumores cerebrais mais eficientes.
A pesquisa, publicada hoje na revista Cell Press Med, revela que a ferramenta é rápida e prática. Testes iniciais feitos em amostras de tecido cerebral, mostram que a novidade poderá ser aplicada em tempo real, durante cirurgias cerebrais. Os cientistas afirmaram que o UR-ddPCR agiu mais rapidamente do que o ddPCR padrão, que quantifica células tumorais com precisão, mas leva várias horas para fornecer um resultado, o que impossibilita seu uso durante operações.
“Em muitos tipos de câncer, como tumores no cérebro, o sucesso da cirurgia e a prevenção do retorno do câncer dependem da remoção do máximo possível do tumor e das células cancerígenas circundantes com segurança”, disse o coautor da pesquisa e neurocirurgião Daniel Orringer.
O ensaio aponta que a ferramenta criada pelos cientistas UR-ddPCR obteve os mesmos resultados que o ddPCR padrão no sequenciamento genético de 75 amostras de tecido de 22 pacientes que passaram por cirurgia para remoção de um glioma —tipo de câncer cerebral. A eficiência do UR-ddPCR também foi avaliada pelo seu uso em amostras de tecido com e sem tumor.
“Nosso estudo mostra que o Ultra-Rapid droplet digital PCR pode ser uma ferramenta rápida e eficiente para fazer um diagnóstico molecular durante a cirurgia para câncer cerebral, e tem potencial para também ser usado para cânceres fora do cérebro”, frisou Gilad Evrony, coautor do estudo e geneticista da NYU.
Para criar o UR-ddPCR, a equipe diminuiu o tempo de extração do DNA de amostras de tumores de 30 minutos para menos de cinco. Os cientistas também aumentaram as concentrações dos produtos químicos usados nos testes, reduzindo o tempo de algumas etapas de duas horas para menos de três minutos. Outras estratégias também foram aplicadas para reduzir o prazo, tornando viável a realização do exame durante a cirurgia.
A equipe usou o UR-ddPCR para avaliar duas mutações genéticas, IDH1 R132H e BRAF V600E, comuns em cânceres cerebrais. Eles combinaram UR-ddPCR com outra técnica criada anteriormente, a histologia Raman estimulada — para calcular tanto a fração quanto a densidade de células tumorais em cada amostra de tecido.
Rodrigo Bovolin, corresponsável pelo serviço de oncologia clínica do hospital Sírio-Libanês em Brasília, destaca que com essa inovação, os cirurgiões podem obter informações mais detalhadas em tempo real, o que permite uma remoção mais eficaz do tumor sem comprometer áreas saudáveis. “Isso reduz o risco de o câncer voltar e melhora a recuperação dos pacientes. Embora ainda sejam necessários mais estudos antes de sua adoção generalizada, essa técnica tem grande potencial para transformar as cirurgias de tumores cerebrais e de outros tipos de câncer.”
Para Igor Morbeck, oncologista da Oncoclínicas Brasília, destaca que o trabalho é muito relevante. “No tratamento dos tumores cerebrais uma dificuldade muito grande é a presença das lesões infiltrativas —que penetram fortemente no tecido cerebral, de forma que, para o cirurgião, é impossível saber se toda a doença foi ressecada ou não. Então, esse é um método que avalia com precisão se o tumor foi extirpado, retirado com margem de segurança, o que nem sempre é possível no tratamento dos gliomas cerebrais. E já avalia precocemente a presença ou não de mutações que podem conferir um prognóstico, um resultado pior para os pacientes.”
Os autores da pesquisa ponderam que, apesar dos resultados satisfatórios dos ensaios, é necessário refinar a técnica para que a ferramenta possa ser aplicada amplamente no futuro. Eles afirmam que a próxima etapa da pesquisa é automatizar o UR-ddPCR para ser mais rápido e simples. A equipe planeja ainda ampliar a tecnologia para identificar outras mutações genéticas comuns em diferentes tipos de tumor.
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