Por Medicina S/A
Os nanotubos de túneis, pontes membranosas microscópicas que conectam células e permitem a troca de componentes essenciais, podem ser a chave para entender doenças neurodegenerativas e o câncer. Essa foi a principal mensagem do seminário internacional promovido pelo Instituto Pasteur de São Paulo, no qual a cientista Chiara Zurzolo, chefe da Unidade de Patogênese e Tráfego de Membranas do Instituto Pasteur de Paris, apresentou uma pesquisa que desafia paradigmas e abre novas possibilidades para a medicina. O evento foi realizado em São Paulo no dia 7 de fevereiro.
Segundo Zurzolo, os cientistas acreditaram por muito tempo que a comunicação entre as células ocorria exclusivamente por meio de sinais químicos captados por receptores de superfície celular. No entanto, ela destacou que “estudos recentes demonstram que as células também se conectam fisicamente, por meio de nanotubos de túneis – estruturas microscópicas que formam pontes para troca de íons, proteínas e até organelas”.
Zurzolo explicou que “esses nanotubos são como pontes biológicas, permitindo que as células compartilhem não apenas sinais elétricos e químicos, mas também componentes essenciais para a função celular e sobrevivência em ambientes adversos”.
Nanotubos e doenças neurológicas – Essas descobertas têm impactos de longo alcance. Zurzolo detalhou o papel crucial que essas estruturas desempenham na propagação de proteínas ‘mal dobradas’ associadas ao Alzheimer e ao Parkinson. Com formato anormal, essas proteínas tóxicas formam agregados e podem se deslocar entre as células nervosas por meio de nanotubos, acelerando a progressão dessas doenças. Além disso, a cientista destacou que, na presença de agregados proteicos, células do sistema imunológico do cérebro chamadas microglia usam os nanotubos para transferir mitocôndrias saudáveis para neurônios danificados, na tentativa de socorrê-los. Esse mecanismo, no entanto, pode ser danificado em estados de inflamação prolongada, impactando negativamente a função cerebral. Isso levanta questões importantes sobre como os processos inflamatórios crônicos podem afetar a regeneração neuronal e a progressão de doenças neurodegenerativas.
Outra revelação marcante foi o papel dessas estruturas na progressão do câncer. “Pesquisas recentes indicam que tumores altamente agressivos usam nanotubos para trocar mitocôndrias e outros componentes entre células cancerígenas, favorecendo seu crescimento e aumentando a resistência ao tratamento”, disse ela.
Possíveis aplicações terapêuticas – O estudo de nanotubos de túneis oferece novas perspectivas para tratamentos inovadores. Ao entender esses processos, os pesquisadores buscam desenvolver estratégias para bloquear a disseminação de proteínas defeituosas no cérebro ou interromper a troca de materiais entre células tumorais, o que pode resultar em terapias mais eficazes contra doenças devastadoras.
Além disso, os cientistas estão investigando maneiras de usar nanotubos para aprimorar tratamentos médicos. “A transferência controlada de mitocôndrias saudáveis entre células pode representar uma abordagem promissora para restaurar a função celular em pacientes com doenças degenerativas”, exemplificou a cientista.
Outra abordagem inovadora envolve a possibilidade de usar nanotubos para direcionar a distribuição de medicamentos no corpo. Como essas estruturas são capazes de conectar células à distância, há um enorme potencial para desenvolver terapias mais específicas e eficazes, reduzindo os efeitos colaterais dos tratamentos convencionais.
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