Nova técnica de identificação criada por cientistas japoneses apresentou taxa de sucesso de 94%, e promete revolucionar a forma como o diagnóstico dessas doenças é feito
Por Revista Galileu
Uma inciativa coordenada pela Universidade Metropolitana de Tóquio, no Japão, descobriu que o movimento das células pode ser utilizado como uma técnica para verificar se elas carregam características cancerígenas. Para verificar isso, os pesquisadores observaram exemplares de fibrossarcomas malignos e fibroblastos saudáveis.
Além do diagnóstico facilitado de câncer, os responsáveis defendem que a abordagem também poderá ajudar a lançar luz sobre as funções relacionadas à motilidade celular, como, por exemplo, a cicatrização de tecidos. Um artigo que detalha os novos achados foi publicado em março na revista científica PLOS ONE.
Área de estudo bem conhecida
Por mais que cientistas e médicos observem células pelo microscópio há muitos séculos, a maioria dos estudos se concentra em sua forma, no seu conteúdo e na localização de suas diferentes partes. Mas as células são estruturas dinâmicas, e mudam ao longo do tempo.
Por isso, ao rastrear e analisar com precisão seu movimento, torna-se possível diferenciar as células cujas funções dependem da migração. Um exemplo importante disso é a metástase do câncer, em que a motilidade das células cancerosas permite que elas se espalhem.
Só que observar isso na prática se mostrou uma tarefa bem complicada. Isso porque estudar um pequeno subconjunto de células pode gerar resultados diferentes da realidade.
Qualquer técnica de diagnóstico depende do rastreamento de um grande número de células. Muitos métodos recorrem à marcação fluorescente, o que torna as células muito mais fáceis de serem vistas no microscópio. No entanto, esse procedimento de marcação pode, por si só, afetar suas propriedades. Ou seja: ao marcar uma célula, cientistas podem ter resultados alterados.
Abordagem inédita
O diferencial do projeto da Universidade Metropolitana de Tóquio envolve a descoberta de uma maneira de rastrear células usando a técnica de “microscopia de contraste de fase”. A técnica de observação permite que as células se movam em uma placa de Petri mais próximas de seu estado natural.
Por meio de análises de imagens, os especialistas conseguiram detectar as trajetórias de muitas células a nível individual. Isso envolve analisar os caminhos percorridos com base na velocidade de migração e no quão curvilíneos eles são, por exemplo.
No teste da técnica, os cientistas compararam células de fibroblastos saudáveis, o principal componente do tecido animal, e células de fibrossarcoma maligno, células cancerígenas do tecido conjuntivo. Assim, conseguiu-se demonstrar que as células migravam de maneiras sutilmente diferentes. Veja alguns exemplos dessas trajetórias abaixo:
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Ao posicionar a “soma dos ângulos de curva” (o quão curvilíneos eram os caminhos), a frequência de curvas superficiais e a rapidez com que se moviam lado a lado, a equipe obteve sucesso na previsão de câncer dentro da célula. A precisão da técnica foi de 94%.
Em comunicado, os autores indicam que “o trabalho não apenas promete uma nova maneira de discriminar células cancerígenas, mas também aplicações à pesquisa de qualquer função biológica baseada na mobilidade celular”. No futuro, os responsáveis pretendem analisar a sua aplicação em relação aos fenômenos de cicatrização de feridas e crescimento de tecidos.
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