Utilização excessiva pode agravar problemas de saúde e afetar relacionamentos
Por Mariza Tavares, do G1 Rio de Janeiro
Voltando ao Gero 2018, realizado nos dias 28 e 29 de setembro em São Paulo e que já foi tema da coluna da última quinta-feira: no desdobramento das discussões sobre como a relação entre envelhecimento e tecnologia vem se tornando cada vez mais próxima, uma questão relevante é o risco de abuso tecnológico. Como isso pode ocorrer foi o tema da apresentação da psicóloga Cecília Galetti, com especialização em neuropsicologia, que fez uma provocação: “qual será o webdestino dos ciberidosos?”. Ela apresentou o caso de uma paciente com mais de 70 anos que, ao enfrentar restrições de locomoção, descobriu a internet como uma nova opção para se manter ocupada. Entretanto, não se transformou apenas numa navegadora contumaz, e sim numa viciada na rede. Seus novos hábitos afetaram negativamente a saúde, porque passou a fumar o dobro que o habitual e adotou um comportamento de maior retraimento social.
O que emerge dessa reflexão? A necessidade de um olhar atento para buscar o equilíbrio e evitar a rotina vazia, que tanto pode ser a internet quanto assistir a horas de TV. Como afirmou o palestrante Andrey Masiero, professor e desenvolvedor de softwares, “a tecnologia não é início, nem fim, e sim um caminho para ajudar, para facilitar as coisas. Tem que ser acolhedora”. Por isso ele citou inúmeras iniciativas com este objetivo. Para quem argumenta que estão fora do alcance da maioria da população, é importante lembrar como o processo de massificação tecnológica derruba os preços – o que aconteceu com o celular. Entre os recursos já disponíveis há câmeras para registrar o padrão de circulação dentro de casa, de forma que se possa adaptar o ambiente da maneira mais amigável. “Numa casa inteligente, o simples ato de o idoso se sentar na beira da cama, fazendo a menção de se levantar, pode acionar o sensor que acenderá luzes para guiá-lo no caminho até o banheiro ou a cozinha”, disse Masiero. Há também sensores de carga no assoalho, que indicam que a pessoa sofreu uma queda. Além disso, o campo da telemedicina está em expansão acelerada: “o chatbot é um robô que funciona como atendente e pode fazer uma anamnese preliminar através de um aplicativo no celular. É ele que vai ‘conversar’ com o paciente e cadastrar dados como os horários de medicação, para fornecer um roteiro para assistentes virtuais, como o Alexa ou Echo”, acrescentou.
Teremos que esperar para confirmar se, como afirmam especialistas, os robôs de companhia serão incorporados ao dia a dia. É possível que a desigualdade social, e digital, crie um fosso entre quem vai e quem não vai se beneficiar da tecnologia de ponta. Entretanto, não há mais dúvidas sobre o impacto positivo que o mundo digital pode trazer para os idosos. Um bom exemplo é um projeto da USP chamado Estação Ativamente, que se vale de jogos eletrônicos utilizados no Japão: um deles é o taiko, um tambor de percussão – a pessoa tem que manejar as baquetas de acordo com instruções que surgem no vídeo, alternando velocidade e ritmos musicais. Há ainda um jogo de memória e o jogo do martelo, onde é preciso acertar golpes nos botões que acendem de modo intermitente, entre outros. De acordo com Thaís Bento Lima da Silva, gerontóloga e doutora do Departamento de Neurologia Cognitiva e Comportamental da Faculdade de Medicina da USP, houve diminuição dos sintomas de ansiedade e melhora na autoavaliação de memória. “O idoso que faz uso de plataformas digitais pode melhorar seu raciocínio e adquirir estratégias de retenção de memória episódica”, explicou.
Foto: By Jiuguang Wang / Wikimedia Commons