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Dose alta de vitamina D pode ter efeito contrário, aponta estudo

A superdosagem causa redução na densidade óssea, mostra estudo canadense com 300 voluntários. Ainda não há consenso médico sobre a quantidade ideal e qual seria o limite a ser prescrito

Por Correio Braziliense

Bastam 10 a 15 minutos de exposição solar sem filtro para a síntese da vitamina D, hormônio que regula a absorção de fósforo e cálcio no organismo. Pessoas que moram em regiões menos ensolaradas ou que não podem, por algum motivo, tomar Sol costumam apresentar deficit da substância, o que, entre outras coisas, provoca o enfraquecimento dos ossos e predispõe à osteoporose. Para elas, os médicos podem prescrever os suplementos vendidos em farmácias. Contudo, até agora, não existe um consenso sobre a dosagem ideal nem se sabe o quanto é demais.

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Reumatologia considera deficientes níveis abaixo de 30ng/ml, sendo que a suplementação depende da especificidade de cada paciente. Para idosos, a recomendação de reposição é de 800 a 1.000 unidades internacionais (UI) do hormônio por dia, o que também pode variar, de acordo com cada organismo. No Canadá, onde o Sol brilha poucos meses por ano, a indicação é de 600 UI para adultos saudáveis até os 70 anos e de 800 UI depois disso. Algumas organizações de saúde do país norte-americano, como a Osteoporis Canada, chegam a sugerir de 400 a 2 mil UI para pessoas em risco de osteoporose. Contudo, há preocupação de que níveis 20 vezes mais altos que o usual sejam perigosos.

“Embora a vitamina D possa estar envolvida na regulação de muitos sistemas do corpo, o esqueleto é o mais claramente afetado. Mas também nos preocupamos em estabelecer uma dose ideal. Será que é benéfico tomar altas dosagens?”, questiona David Hanley, endocrinologista da Faculdade de Medicina Cumming, no Canadá, e um dos principais autores de um estudo publicado no Journal of American Medical Association (Jama) que avaliou os efeitos da superdosagem. A pesquisa, que durou três anos, mostrou que não há vantagens em ingerir quantidades altas da substância.

O estudo acompanhou 300 voluntários entre 55 e 70 anos, em um ensaio clínico duplo-cego (nem pacientes nem cientistas sabem quem está no placebo e quem recebe tratamento) para testar a hipótese de que, com doses crescentes de vitamina D, haveria aumento na densidade e na força óssea. Um terço dos participantes recebeu 400 UI de vitamina D por dia, um terço recebeu 4.000 UI por dia e um terço recebeu 10.000 UI por dia.

Os voluntários tiveram a densidade e a força óssea medidas no punho e no tornozelo por meio de um novo exame de tomografia computadorizada (TC) de alta resolução, chamado XtremeCT, usado apenas para pesquisas. O XtremeCT permite analisar a microarquitetura óssea em detalhes nunca antes vistos. A densidade óssea padrão da absorciometria de raios-X duplos (DXA) — exame usado para detecção de osteoporose — também foi feita. Os participantes fizeram os testes no início do estudo e passados seis, 12, 24 e 36 meses. Para avaliar os níveis de vitamina D e de cálcio, os pesquisadores coletaram amostras de sangue em jejum e de urina no início do estudo e depois de três, seis, 12, 18, 24, 30 e 36 meses.

Fratura

A densidade mineral óssea (DMO) é determinada medindo a quantidade de cálcio e de outros minerais em um segmento definido do osso. Quanto menor a DMO, maior o risco de fratura. Os adultos perdem lentamente a densidade mineral óssea à medida que envelhecem, e os resultados do DXA mostraram uma diminuição modesta durante o estudo, sem diferenças detectadas entre os três grupos. No entanto, a medida mais sensível da DMO com o XtremeCT de alta resolução apontou diferenças significativas na perda óssea entre os três níveis de dose.

A DMO total diminuiu no período de três anos em 1,4% no grupo de 400 UI; 2,6% no grupo de 4.000 UI e 3,6% no grupo de 10.000 UI. A conclusão foi que, ao contrário do previsto, a suplementação de vitamina D em doses superiores às recomendadas não estava associada a um aumento na densidade ou na força óssea. Em vez disso, o XtremeCT detectou uma diminuição relacionada à dosagem na densidade óssea, com a maior redução ocorrendo no grupo de 10.000 UI por dia. Mais pesquisas são necessárias para determinar se superdosagens podem realmente comprometer a saúde óssea, observam os pesquisadores.

“Ficamos surpresos ao descobrir que, em vez de ganho ósseo com doses mais altas, o grupo submetido a esse protocolo perdeu osso mais rapidamente”, diz Steve Boyd, professor da Faculdade de Medicina Cumming e um dos pesquisadores. Outra preocupação, segundo Boyd, é que os participantes que receberam doses mais altas de suplementação diária de vitamina D (4000 UI e 10.000 UI) ao longo dos três anos foram mais propensos a desenvolver hipercalciúria (níveis elevados de cálcio na urina), em comparação àqueles que receberam dose diária mais baixa.

A hipercalciúria não é incomum na população em geral, mas está associada a uma probabilidade maior de cálculos renais e pode contribuir para o comprometimento da função renal. A condição foi detectada em 87 participantes. A incidência variou significativamente entre os grupos de 400 UI (17%), 4.000 UI (22%) e 10.000 UI (31%).

 

Foto: Nedaa Photography/Divulgação

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