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Câncer de pulmão: medicina de precisão tem papel-chave para mudar o curso da doença

Medicina já é capaz de detectar biomarcadores que indicam qual o melhor caminho para tratar o câncer de pulmão, um dos mais incidentes no mundo

Por Futuro da Saúde

O câncer de pulmão é, mundialmente, o mais incidente entre os homens e o terceiro entre as mulheres. As estimativas, em 2020, eram de mais de 2 milhões de novos casos. No mesmo ano, a doença foi responsável por 28.620 mortes, apenas no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde.1 É um cenário alarmante, mas que pode mudar com um recente avanço: a identificação de biomarcadores para aplicar a medicina de precisão.

De acordo com o oncologista Carlos Teixeira, especialista em cancerologia clínica e membro do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT), o câncer torácico, de forma geral, até pouco tempo atrás não apresentava bons índices de sobrevida, mas a medicina de precisão chegou para mudar esse prognóstico:

“O adenocarcinoma, por exemplo, é um conjunto de doenças raras. Saber apenas que o paciente tem câncer de pulmão não é mais suficiente. Hoje, conseguimos descobrir nome, sobrenome e comportamento do tumor. E o câncer de pulmão, especificamente, é um caso de sucesso na medicina de precisão. Dessa forma, é possível determinar um tratamento mais direcionado e efetivo”.

O oncologista traçou o panorama dos avanços em relação ao câncer de pulmão e a importância dos biomarcadores na semana passada, durante simpósio promovido pela farmacêutica Eli Lilly no Congresso Todos Juntos Contra o Câncer.

Biomarcadores mostram o caminho para terapias direcionadas
O câncer de pulmão é dividido entre dois principais tipos: o de pequenas células e o de não pequenas células – que representa o maior número de casos, chegando a 85%. Este segundo tipo é composto por subtipos como o adenocarcinoma, o carcinoma espinocelular e o carcinoma de grandes células.2

Dentro desse grupo de não pequenas células, aproximadamente 49% dos pacientes3 possuem uma alteração genômica que desencadeiam o processo de crescimento atípico de células, que causam os tumores. E para cada subtipo, a ciência já desenvolveu terapias-alvo dirigidas. Estes genes são os tais biomarcadores, identificados por siglas: NTRK 1, 2 e 3, ROS1, ALK, ERBB2, MET, BRAF, EGFR, KRAS (G12C e non-G12C) e RET. Desses dez biomarcadores, oito, inclusive, já contam com drogas aprovadas no Brasil.

“A chance de detecção de uma dessas alterações é de 2% a 3%, mas quando detectada, muda a história do paciente. É preciso celebrar o fato também de a Anvisa estar sendo muito mais célere nas aprovações, dando chances para mais pessoas passarem por melhores tratamentos”, afirma Teixeira.

O biomarcador chamado RET, por exemplo, está presente no câncer de pulmão de células não pequenas metastático e em alguns tipos de câncer como tireoide, pâncreas, ovário e colorretal. Quando os genes RET se fundem com outros biomarcadores – chamados de fusões ou mutações RET –, podem impulsionar o crescimento do tumor.

“Tentamos bloquear o RET no passado, com taxas de respostas pequenas, porque não eram terapias específicas para RET. Hoje temos resposta efetiva, utilizando pequenas moléculas para frear esses rearranjos, com taxas de resposta chegando 80% a 85% em pacientes virgens de tratamento e com bom perfil de segurança, com efeitos colaterais manejáveis que não acarretam pausa no tratamento”, aponta o oncologista.

Detecção e início do tratamento do câncer de pulmão
Alguns testes para detectar biomarcadores estão disponíveis no mercado, como o FISH, o PCR, o Sequenciamento de Sanger e o NGS (Sequenciamento de Nova Geração, na sigla em inglês), que tem se provado cada vez mais efetivo, de acordo com Carlos Teixeira:

“O NGS é o teste mais preciso que temos. Ele faz uma leitura horizontal da fita do DNA ou do RNA para descobrir se existem erros como quebras, mutações e translocações. Quando descobertos, alguns têm significado indeterminado, outras alterações já são conhecidas mas ainda não têm tratamento e outras já podem ser tratadas, mudando todo o curso da doença”.

As pesquisas também acontecem com base nas alterações identificadas nesses tipos de exame. Segundo o médico, os oncologistas, hoje, deveriam fazer esse reconhecimento em todos os pacientes com câncer, mas nem sempre estão acessíveis: “São testes caros, mas graças à iniciativa da indústria farmacêutica, os brasileiros têm acesso a eles de forma gratuita”.

Para ele, “nosso maior desafio atual, no entanto, é lidar com pequenas biópsias e tirar o máximo de informação do que foi possível coletar. No futuro, esperamos ter esses resultados via biópsia líquida, que é muito menos invasiva e mais fácil de administrar do que a biópsia tecidual”.

Independentemente do tipo de teste, depois de identificada alguma alteração tratável é preciso iniciar a administração dos medicamentos imediatamente, o que traz um potencial ganho de qualidade de vida, taxa de resposta e sobrevida:

“Hoje já temos a possibilidade de iniciar alguns tratamentos com terapia-alvo até mesmo em estágios iniciais da doença. A medicina de precisão tem feito com que os pacientes tenham melhores desfechos e que não se sintam doentes, podendo ter liberdade e aproveitar a vida. E a tendência é que esse cenário melhore cada vez mais”, finaliza o especialista

Referências:
Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer – INCA. Câncer de Pulmão. Acesso em 03 de outubro de 2022. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos/pulmao
American Cancer Society. What is Lung Cancer? Acesso em 03 de outubro de 2022. Disponível em: https://www.cancer.org/cancer/lung-cancer/about/what-is.html
Massard C, et al. Cancer Discov. 2017;7(6):586-595

Foto: Reprodução/Futuro da Saúde

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