Pesquisa do Instituto Datafolha, encomendada pela Associação Paulista de Medicina (APM), aponta preocupação dos brasileiros quanto à qualidade da formação dos médicos. Nada menos do que 91% dos entrevistados compreendem que o recém-graduado deve se submeter obrigatoriamente a exames de proficiência, nos moldes do que ocorre há décadas na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
“É significativo ver essa percepção sobre o preparo daquele que é treinado para salvar vidas. A maioria dos cidadãos de fato vê a degradação do ensino médico brasileiro, o que também é nossa avaliação”, acentua Florisval Meinão, presidente da APM. “Lamentavelmente, os governos, já há algumas décadas, abrem faculdades de medicina indiscriminadamente, sem estrutura adequada à formação de qualidade”.
Ainda sobre a qualificação dos médicos brasileiros, 35% dizem acreditar que o ensino decaiu nos últimos anos, enquanto 43% acham que continuou no mesmo nível. No Sudeste, 43% enxergam piora.
“Estamos abrindo cursos sem a mínima infraestrutura. Assim, formamos maus profissionais. O cenário é pior nas escolas novas, com menos de dez anos. A pesquisa Datafolha deixa claro o temor da população com esses novos médicos. Precisamos de uma graduação alicerçada na qualidade, não em quantidade”, reforça Florisval.
A preocupação dos brasileiros também se estende ao Programa Mais Médicos para o Brasil. Imensa maioria dos entrevistados, 89%, é a favor da aplicação de exames a profissionais de outros países que queiram atuar no País, a fim de comprovar efetiva capacitação, conhecimento e boas práticas.
“Sem uma prova de nível, não temos como assegurar que essas pessoas tenham passado por boas escolas de medicina, aprendido e apreendido. Muitos dos que são encaminhados para cá são formados pela Escola Latino-Americana de Medicina, de Cuba, onde o currículo não é equiparável ao nosso”, argumenta o presidente da APM.
Aliás, Meinão descreve como fundamental uma crescente atenção aos médicos que estão sendo formados e aos que venham aqui trabalhar:
“Precisamos analisar cada novo profissional que esteja ingressando no mercado de trabalho. Estudamos para salvar vidas e cuidar das pessoas; por isso, nossas escolas devem estar preparadas para prover toda a base necessária de conhecimento prático e teórico. É essencial garantir que apenas médicos capacitados atendam a população”.
Metodologia
A pesquisa quantitativa Datafolha ouviu 4.060 pessoas acima dos 16 anos de todo o Brasil, com abordagem pessoal e via telefone a partir de questionário estruturado. As entrevistas foram realizadas entre 1 e 8 de agosto de 2015.
Ao todo, 40% dos abordados são das Regiões Metropolitanas e 60% do Interior. A distribuição da amostra é: 15% Norte/Centro-Oeste; 27% Nordeste; 43% Sudeste; e 15% Sul. A margem de erro, para o total, é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, com confiança de 95%.
A amostra é composta por 52% de mulheres e 48% de homens. Quanto à escolaridade, 44% têm ensino fundamental, 42% apresentam ensino médio e 14% superior; 42% tem renda familiar mensal de até dois salários mínimos; 48% são pertencentes à classe C.
Fonte: http://www.apm.org.br/
Foto: Lisa Brewster, via Flickr