O presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), Pablo Vázquez, afirmou em entrevista no Bom Dia Rio desta quarta-feira (23) que mortes que poderiam ser evitáveis estão acontecendo nas unidades de saúde estadual por causa da falta de atendimento aos pacientes. Em todo o Estado do Rio, hospitais não conseguem atender os pacientes por falta de insumos e por falta de pagamentos dos profissionais. Alguns médicos e enfermeiros não recebem desde outubro.
“Nós entendemos que esta é uma situação criminosa, onde estão acontecendo agravos à saúde que são evitáveis e até mortes evitáveis se estivéssemos com um atendimento normalizado na rede estadual. Nós fomos ao Ministério da Saúde na quarta-feira (16) à noite e denunciamos a situação para o ministro, que chamou os secretários de saúde e ordenou um contingenciamento e nós, até agora, não vimos um resultado concreto”, afirmou o presidente do Cremerj.
Vázquez alerta que o aporte financeiro que foi prometido na reunião não foi concretizado. Ele afirma que a situação, caso continue como está, pode se agravar ainda mais. O presidente do Cremerj alerta para o risco de que os pacientes que ainda estão internados nos hospitais estaduais acabem desassistidos por falta de recursos.
“Os profissionais de auxílio de limpeza, os técnicos de enfermagem, que dependem do salário para chegar ao local de trabalho, podem deixar de comparecer e, aí sim, vamos ter que fechar as portas de todos os hospitais e transferir estes pacientes, não sei para onde”, alertou o presidente do Cremerj.
Pablo Vázquez alertou ainda que a terceirização do setor de saúde pública agravou o problema, com o fechamento de emergências, até com tapumes. “Nós denunciamos lá atrás que, a terceirização dos serviços daria neste tipo de problema. Agora, estas organizações sociais, sem receber os repasses, sem compromisso nenhum, fecham a mala, pegam um tapume, fecham a porta e vão embora”, contou o presidente do Cremerj.
O presidente do Cremerj pediu que os médicos se empenhem para atender os pacientes, mesmo com poucos recursos e com o constrangimento da falta de condições de atendimento. “O Conselho Regional de Medicina pede a todos os médicos para se empenharem ao máximo e encaminharem relatórios ao Cremerj, registrar na delegacia de polícia os casos e incentivar os pacientes que se sintam prejudicados a procurarem o poder judiciário e o poder policial. Porque não é possível que a população do Rio de Janeiro receba este presente de Natal”, lamentou Pablo Vázquez.
Liminar obriga RJ a liberar imediatamente recursos para saúde
O gabinete de crise formado para discutir soluções para minimizar a crise nas unidades de saúde do Rio de Janeiro obteve na madrugada desta quarta-feira (23) uma liminar que obriga o governo estadual a disponibilizar imediatamente os recursos obrigatórios destinados à saúde.
Segundo a liminar, concedida em ação civil pública ajuizada pelo Sindicato dos Médicos e que teve parecer favorável do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, o Estado tem 24 horas para depositar no Fundo Estadual de Saúde do Rio de Janeiro os valores correspondentes a 12% de sua receita no ano. Em caso de descumprimento, o Estado será penalizado com multa diária de R$ 50 mil. O secretário de Estado de Saúde e o governador também terão que pagar multa diária de R$ 10 mil, caso não cumpram a decisão.
O gabinete de crise foi montado nesta segunda-feira (21/12) para cobrar das autoridades soluções para os problemas enfrentados pelas unidades de saúde no Estado do Rio. Integram o gabinete o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Ministério Público Federal, Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro e as Defensorias Públicas da União e do Estado.
As instituições que fazem parte do gabinete de crise exigem uma reorganização do sistema de saúde e o cumprimento do contrato com as organizações sociais. Por falta de repasses, as instituições responsáveis pela gestão das unidades de saúde têm atrasado o pagamento dos profissionais e deixado de fornecer insumos.
Nesta quarta (23), funcionários realizaram um protesto diante do Hospital Getúlio Vargas, na Penha. A unidade é considerada referência na Zona Norte da cidade. Imagens do local mostram andares inteiros vazios e portas fechadas com cadeados.
Mapa do problema
O Cremerj divulgou um balanço das unidades de saúde que foram afetadas pela crise no Estado do Rio de Janeiro. A contagem foi feita com base em denúncias dos médicos de 24 unidades de saúde.
Estão com o funcionamento parcial o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, o Albert Schweitzer, em Realengo, e o Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, onde 30 pacientes aguardam por cirurgias ortopédicas.
A situação é considerada crítica no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, onde faltam insumos básicos. A situação também é grave, com funcionamento precário e salários atrasados no Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia e no Hemorio, no Centro, e no Instituto de Cardiologia Aloysio de Castro, em Botafogo, na Zona Sul.
Entre as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) da rede estadual, 17 delas estão com o funcionamento comprometido ou estão fechadas. No interior do estado, também estão com problemas nas UPAs de Barra Mansa, de Cabo Frio e de Nova Friburgo. Na Baixada Fluminense, as UPAs de Duque de Caxias, de Cabuçu, em Nova Iguaçu; e de Magé apresentam atendimento precário. O Cremerj também aponta problemas em UPAs de Niterói e do Columbandê, em São Gonçalo. Na capital, as UPAs de Botafogo, de Realengo, de Jacarepaguá, Manguinhos, Marechal Hermes e Ricardo de Albuquerque.
Fonte: http://g1.globo.com/
Foto: George Valem, via Flickr