Em todas as regiões do país, não importa se o estado é pobre ou rico, a Saúde aparece sempre como a maior preocupação do eleitor. Segundo dados das últimas pesquisas Ibope em 19 capitais do país, a área é apontada como aquela com os maiores problemas na opinião da maioria do eleitorado. Em algumas capitais, como Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Velho, Macapá e Aracaju, mais da metade dos eleitores vê esse setor como o mais problemático, e a distância entre a Saúde e a área mencionada como a segunda pior nesses municípios chega a ser de mais de 30 pontos percentuais.
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Segundo a diretora do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, enquanto outros temas, como inflação e desemprego, saíram do topo da lista de preocupações dos eleitores desde os anos 1980, a Saúde tem sido “um problema crônico”.
No Rio e em São Paulo, por exemplo, 54% do eleitorado apontaram o setor da Saúde ao responderem à pergunta “Qual é a área em que, na sua opinião, a população da cidade está enfrentando os maiores problemas?”, presente no questionário do Ibope. No Rio, o segundo lugar, Segurança, teve 15%. Em São Paulo, a distância é ainda maior em relação ao segundo lugar, ocupado também pela Segurança, com 9%.
Mas a capital com a maior parcela de eleitorado crítica à Saúde, entre os municípios pesquisados, é Aracaju, onde 61% dos eleitores entrevistados veem o setor como aquele com mais problemas, seguido da Segurança, com 14%. A capital de Sergipe é seguida por Macapá, onde 59% dos eleitores do município se preocupam mais com a Saúde; em segundo lugar no ranking das áreas mais criticas, vem a Segurança, com 10%.
No Centro-Oeste, Goiânia aparece com um percentual de 43% para a Saúde; no Sul, Curitiba tem 49%. Os percentuais se referem a respostas dadas a partir de uma lista de áreas apresentada aos entrevistados, em pesquisas divulgadas a partir do dia 22 deste mês.
— Começamos a monitorar os maiores problemas das cidades em 1989, e a Saúde sempre esteve entre os três principais. A inflação já foi um grande problema, mas diminuiu bastante. O desemprego também impressionou, e hoje já é muito menor. A Saúde, no entanto, é um problema crônico. As pessoas não percebem melhorias — diz Márcia Cavallari, diretora do Ibope Inteligência. — A Saúde certamente não deixará de ser uma preocupação a curto prazo.
Com a crise econômica, muitas pessoas deixaram de pagar planos privados. Os desempregados perderam os planos empresariais. E a Saúde, com problemas no acesso e na qualidade, é ainda mais complexa, porque envolve as três esferas de governo.
Professora da Faculdade de Medicina da UFRJ, Ligia Bahia chama atenção para a diferença entre as necessidades da população no campo da Saúde e as promessas que são feitas pelos candidatos para ele:
— Analisamos o discurso dos candidatos a prefeito de Rio e São Paulo, e vemos que a Saúde não é encarada como prioridade. Os prefeitos adotam o discurso de que a Saúde não é sua responsabilidade. Para eles, esse papel cabe ao estado ou à União. No entanto, em nenhuma das esferas vemos políticas públicas bem-sucedidas. Todas as propostas apresentadas são aquém das necessidades das capitais. Preferem abordar problemas pontuais, como mutirões e campanhas comunitárias, a tratar de atividades de qualidade de rotina.
Fonte: Jornal Extra/O Globo
Foto: Military Health/Flickr