Carne sintética, novas terapias, soluções para o meio ambiente… As grandes ideias para um mundo melhor podem vir de empresas bem pequenas
Por André Biernath, do Saúde é Vital
Durante as minhas férias em outubro, viajei a São Francisco, nos Estados Unidos, para participar da Conferência Mundial de Jornalismo Científico, que reuniu mais de 1 300 jornalistas de 70 países diferentes. No evento, tive a oportunidade de conhecer bem de perto a Indie Bio, uma das mais avançadas aceleradoras de startups de saúde do mundo.
Para quem não está familiarizado com o tema, startups são empreendimentos pequenos, que ainda estão em seu período inicial de desenvolvimento. Em razão disso, conseguem tomar decisões com rapidez e gastar bem menos dinheiro para se desenvolver e, se tudo der certo, conquistar vultuosos lucros em pouco tempo. Uber, AirBnb e Spotify já foram startups lá atrás.
Aceleradoras, por sua vez, são empresas que apoiam e investem nesses projetos para que eles consigam dar seus primeiros passos. Elas ganham ao ficar com uma fatia dos rendimentos ou uma participação nos resultados das startups. Esse modelo de negócio é bastante comum no Vale do Silício, na Califórnia, região americana onde estão as gigantes de tecnologia como o Google e o Facebook.
Voltando à nossa história, a Indie Bio funciona num prédio de dois andares num beco de São Francisco. Duas vezes ao ano, ela abre inscrições para diversos projetos que unem ciência, tecnologia de ponta e saúde.
As 15 startups selecionadas ganham 250 mil dólares e podem trabalhar lá dentro durante quatro meses, quando recebem orientação e treinamento para desenvolverem suas ideias e venderem seu peixe para investidores. Acabado esse período, elas são “despachadas” e precisam andar com as próprias pernas pelo mundo.
“Nós oferecemos um laboratório equipado com as ferramentas mais modernas, o que é muito difícil de se conseguir quando você é um cientista em início de carreira e com uma boa ideia na cabeça”, diz Alex Kopelyan, gerente da Indie Bio.
A empresa, que fica aberta 24 horas todos os dias, tem um clima bastante descontraído. As bancadas são cheias de papeis, pipetas e máquinas e há muita interação entre os projetos, num clima de parceria.
A seguir, separei algumas das startups mais fascinantes que já passaram por lá. Você pode conferir a lista completa no site deles.
Comida de laboratório
A Clara Foods está criando a primeira clara de ovo feita em laboratório. A ideia é utilizar o produto na nutrição esportiva, em insumos de padaria e na indústria alimentícia de modo geral. A Memphis Meats fez a primeira carne sintética a partir de células animais. Enquanto isso, a New Wave Foods lançou o primeiro camarão feito de plantas e algas. Galinhas, vacas e crustáceos agradecem!
Falando nos bichos…
Imagina fazer um teste da microbiota de seu animal de estimação. Pois já se sabe que o desequilíbrio no conjunto de bactérias que vive no intestino deles (e no nosso também!) está relacionado a uma série de doenças. A Animal Biome quer oferecer o exame para facilitar o diagnóstico e o tratamento dos problemas mais comuns em nossos queridos pets.
Salvação da lavoura
A Endema Bio desenvolve espécies de vegetais mais tolerantes a condições extremas, como a falta de água ou o excesso de minerais no solo. Isso permitiria plantar em regiões inóspitas e trazer comida às pessoas que mais necessitam. Além disso, a Pheronym inventou um spray de feromônios capaz de duplicar a atividade de vermes que afastam os insetos destruidores de plantações. Ele seria um “agrotóxico” amigo do meio ambiente.
Unindo os interesses
A Mendel Health quer ligar as empresas farmacêuticas que procuram voluntários para testar novos remédios a pacientes diagnosticados com aquela condição que o medicamento em potencial atuaria. Isso pode trazer esperanças a indivíduos que não encontraram um tratamento efetivo e também ajudaria os laboratórios a rastrearem pessoas dispostas a participar das pesquisas científicas.
Selfie da cabeça
A Truust Neuroimaging criou um método para fazer imagens do cérebro ativo com uma qualidade de 10 a 100 vezes superior ao que temos disponível hoje. A ideia é usar essas fotografias para entender melhor como a massa cinzenta funciona e criar novos tratamentos para as principais doenças que ocorrem nela, como o Alzheimer e o Parkinson.
Foto: André Biernath/SAÚDE é Vital