De origem grega, o nome significa ‘parte final’: os telômeros são as extremidades dos cromossomos e têm a função crucial de proteger o DNA que está nas nossas células
Por BBC
O nome e a origem são do grego – significa “parte final”, exatamente o que são os telômeros: as extremidades dos cromossomos, como aquelas pontas de plástico dos cadarços do tênis. Eles são partes do DNA muito repetitivas e não-codificantes – sua função principal é proteger o material genético que o cromossomo transporta.
Na medida em que nossas células se dividem para se multiplicar e para regenerar os tecidos e órgãos do nosso corpo, a longitude dos telômeros vai se reduzindo e, por isso, com o passar do tempo, eles vão ficando mais curtos.
Quando finalmente os telômeros ficam tão pequenos que já não são mais capazes de proteger o DNA, as células param de se reproduzir: alcançam um estado de “velhice”.
Por isso, a longitude dos telômeros é considerada um “biomarcador de envelhecimento chave” no nível molecular, embora não seja o único. Nos últimos anos, esse aspecto tem chamado a atenção de diversos pesquisadores.
Qual é o tamanho dos telômeros e em quanto tempo eles se deterioram?
A longitude dos telômeros é medida em “pares de base”, que são os pares de nucleotídeos opostos e complementares que estão conectados por ligações de hidrogênio na cadeia do DNA. A longitude dos telômeros varia muito entre espécies distintas.
No caso dos humanos, a longitude dos telômeros se deteriora passando de uma média de 11 quilobases no nascimento para cerca de 4 quilobases na velhice.
É possível intervir nos telômeros?
Em 2009, três pesquisadores americanos obtiveram o prêmio Nobel de medicina por seu trabalho sobre o envelhecimento das células e sua relação com o câncer.
Elizabeth Blackburn, Carol Greider e Jack Szostak pesquisaram os telômeros e descobriram que a enzima telomerase pode proteger os cromossomos do envelhecimento – pode fazer com que eles regenerem os telômeros e, assim, prolongar a vida deles.
Essa enzima ajuda a impedir o encolhimento dos telômeros com a divisão celular, o que ajuda a manter a juventude biológica das células.
Grande parte das pesquisas sobre telômeros não tem a ver com uma aspiração estética de longevidade, mas sim com a potencial cura de doenças.
A espanhola María Blasco, que trabalhou nos Estados Unidos com Greider, agora é diretora do Grupo de Telômeros e Telomerasa do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas da Espanha.
Blasco liderou o desenvolvimento de uma nova técnica que bloqueia a capacidade do glioblastoma, um dos cânceres cerebrais mais agressivos, de se regenerar e reproduzir, atacando precisamente os telômeros das células cancerígenas.
Em testes com ratos, a equipe dela conseguiu reduzir o crescimento dos tumores e aumentar a sobrevivência dos animais, algo que poderia abrir as portas para alternativas potenciais de tratamento em humanos.
Mas Blasco e sua equipe continuam pesquisando também com estratégias invertidas, conforme explicou à BBC.
A intenção é ativar a telomerase de uma forma que seja possível curar pessoas que estão morrendo de doenças raras por mutações genéticas associadas a telômeros muito curtos.
Segredo da juventude?
Mas conter o envelhecimento de células não necessariamente tem como consequência um efeito anti-idade em todo o corpo.
Segundo a médica Carmen Martin-Ruiz, pesquisadora sobre envelhecimento do Instituto de Neurociência da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, o tamanho dos telômeros de uma pessoa pode determinar o quão “forte” ela é biologicamente.
Mas um dos problemas atuais das pesquisas científicas neste campo, segundo a especialista, é que não existe um método padrão e universal para medir os telômeros.
Um estudo recente dos Estados Unidos concluiu que a maternidade encurtou mais os telômeros das mulheres do que o tabaco ou a obesidade, enquanto outra pesquisa feita entre mulheres maias – menor, porém com uma metodologia “mais complexa”, segundo Martin-Ruiz – chegou à conclusão oposta: que a maternidade fazia as mulheres ficarem biologicamente mais jovens, já que suas células tinham telômeros mais longos.
Martin-Ruiz afirma que cada laboratório utiliza técnicas e metodologias diferentes, o que torna difícil comparar estudos e resultados, porque os cálculos podem ser interpretados de muitas formas diferentes.
De qualquer maneira, há um grande grupo de cientistas que está pesquisando aspectos distintos do envelhecimento humano, incluindo os telômeros, as mitocôndrias, a forma das proteínas e muitos outros aspectos desse processo.
Foto: Arek Socha/Pixabay