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Medicamento contra osteoporose pode provocar necrose nos ossos dos maxilares

Uso deve ser comunicado ao dentista por causa dos seus efeitos colaterais

Por Mariza Tavares, G1 Rio de Janeiro

nome é comprido e ainda desconhecido para muita gente: estomatologia é a especialidade da odontologia que trata das doenças da boca. Há inúmeros problemas que podem afetar a região, mas conversei com o doutor Abel Silveira Cardoso, professor da UFRJ, um dos fundadores e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Estomatologia e Patologia Oral, sobre uma questão relativamente nova: a osteonecrose nos maxilares induzida por medicamentos. E por quê? A explicação é um pouco longa, mas vale cada palavra. Trata-se de um quadro clínico envolvendo perda da vitalidade óssea na região maxilo-facial, provocado pelo uso de medicamentos antirreabsortivos ou antiangiogênicos. As drogas mais frequentemente associadas a este problema pertencem ao grupo dos bisfosfonatos. São remédios usados há muito tempo na área de oncologia, em pacientes com mielomas múltiplos e metástases ósseas osteolíticas. Por impedirem a reabsorção óssea, limitam o crescimento do tumor, aliviando as dores associadas à enfermidade.

Os bisfosfonatos ligam-se ao osso e levam de dez a 12 anos para serem eliminados, o que prolonga seus efeitos – tanto os benéficos quanto os indesejáveis. Na batalha contra o câncer, os médicos sempre consideraram que os efeitos colaterais valiam a pena diante dos benefícios para o paciente. No entanto, os problemas ganharam outra dimensão quando os bisfosfonatos, agora ministrados por via oral, foram incorporados no combate à osteoporose. Embora a incidência da osteonecrose seja relativamente menor em pacientes com osteoporose do que naqueles com câncer, há muito mais gente – mulheres, em sua maioria – fazendo uso desse tipo de medicação. Por isso os consultórios dentários vêm observando o aumento do número de casos de osteonecrose nos maxilares, associada ao uso desse medicamento. Os sintomas principais são dor forte, parestesia (alterações sensoriais, ardência ou formigamento), alveolites e a própria exposição do osso. Complicações são mais frequentes após os procedimentos cirúrgicos invasivos e há grande risco de perda de trabalhos protéticos suportados por implantes.

“O medicamento em si não é ruim. Em tumores malignos com lesões ósseas diminui a dor e evita fraturas. A questão é como está sendo utilizado”, afirmou o doutor Abel. Ele se preocupa especialmente com a expansão do uso de bisfosfonatos, e outras substâncias conhecidas como antirreabsortivas, em casos de osteopenia, o estágio anterior à osteoporose. “O uso de bisfosfonatos na osteopenia talvez não seja bem indicado, o que pode aumentar exponencialmente o número de pessoas expostas aos efeitos indesejáveis”, explica. O uso do medicamento por via oral por mais de três anos é um fator que aumenta o risco de ocorrência de problemas. Quando a utilização é por via venosa, esse prazo encurta. Para a osteoporose, além da via oral, também vem sendo indicado um bisfosfonato na forma de uma infusão anual – o mesmo que era usado por via venosa em oncologia. E ainda há outro antirreabsortivo sendo ministrado semestralmente por via subcutânea.

A osteonecrose foi descrita pela primeira vez em 2003, pelo cirurgião buco-maxilo-facial Robert E. Marx, da Universidade de Miami, que chamou a atenção para o que considerava uma “epidemia crescente”. O tratamento busca controlar a dor, limitar a infecção secundária e a área de osso exposto. Quem faz uso dessas substâncias tem que relatar sua utilização ao dentista, ainda mais se for se submeter a qualquer tipo de cirurgia, como extrações, enxertos e implantes. “Em pacientes oncológicos, onde o risco de osteonecrose é maior, a melhor conduta é a prevenção. Sempre que possível, antes de iniciar o tratamento quimioterápico, é importante procurar o dentista para um exame prévio e para promover uma adequação da cavidade oral, eliminando problemas que poderiam necessitar extrações dentárias ou procedimentos cirúrgicos invasivos durante a quimioterapia. A comunicação entre os profissionais de saúde é fundamental”, conclui o doutor Abel.

Foto: Mariza Tavares

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