Desabastecimento dos antirretrovirais é total, afirma documento entregue a representante da organização
Por France Presse
Com máscaras ou caixas vazias de remédios que não conseguem obter grudadas no corpo, dezenas de portadores de HIV protestaram, nesta quinta-feira (14), em frente à sede da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) em Caracas, capital da Venezuela, durante a visita da representante desse organismo, Carissa Etienne.
“Não mais mortes, queremos remédios”, gritavam os manifestantes enquanto colavam na fachada do organismo cartazes com nomes de portadores de HIV que morreram pela falta de antirretrovirais na Venezuela.
No protesto, a ONG Rede Venezuelana de Gente Positiva entregou à Opas um documento em que denuncia que “mais de 80 mil pessoas com HIV e Aids se encontram afetadas e em perigo pelo desabastecimento de 100% de medicamentos antirretrovirais”.
Na Venezuela, que sofre uma grave crise com hiperinflação e falta de alimentos, a escassez de fármacos é de entre 85% e 100%, segundo a Federação Farmacêutica.
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Sthefany Ramírez, de 24 anos, e vários de seus familiares — incluindo seu bebê — tem HIV e há um ano não conseguem o tratamento.
“Queremos viver”, lia-se em vários cartazes de pessoas que exigiam que a diretora da Opas os atendesse. Espera-se que Etienne se reúna durante a tarde com o chanceler, Jorge Arreaza.
‘Emergência humanitária’
Em 11 de junho, o governo de Nicolás Maduro fez um acordo com a Opas para adquirir medicamentos.
Segundo a Rede Venezuelana de Gente Positiva, desde maio de 2017 o Ministério da Saúde não assinou ordens de compra de antirretrovirais, que escasseiam desde 2009.
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A organização pediu a Etienne que ajude a solucionar “a emergência humanitária”, com doações de remédios, vacinas e insumos.
Escassez chega a 88%
Os hospitais venezuelanos registram uma escassez de medicamentos da ordem de 88% e uma falta de material médico cirúrgico de 79%, segundo uma pesquisa do parlamento de maioria opositora e uma ONG divulgada em março.
O relatório, realizado durante os dez primeiros dias de março pela Assembleia Nacional e pela ONG Médicos pela Saúde também determinou que 94% dos serviços de raio-x não funcionam, assim como 97% dos de tomografia.
“Cem por cento dos laboratórios do país não funcionam de maneira correta por falta de reativos, 79% dos hospitais têm problemas de fornecimento de água e 53% das salas de cirurgião não funcionam”, detalhou Olivares.
Foto: Federico Parra / AFP