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A medicina se aproxima cada vez mais da espiritualidade

Vem crescendo o número de estudos sobre o seu impacto na saúde física e mental dos pacientes

Por Mariza Tavares, G1 Rio de Janeiro

Uma dupla de peso integrou a única mesa do XXI Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia que debateu o tema espiritualidade: Anna Cristina Pegoraro de Freitas, psicóloga e mestre em ciências da religião pela PUC-Minas, onde dá aulas; e Anita Liberalesso Neri, também psicóloga e professora do programa de pós-graduação em gerontologia na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp. Nas últimas três décadas, houve um notável crescimento no número de estudos que abordam questões relacionadas às implicações da religiosidade e espiritualidade na saúde física e mental dos pacientes.

A professora Anna Cristina pontuou as diferenças entre religião, religiosidade e espiritualidade. De acordo com os teóricos, entre os quais se destaca Harold G. Koenig, religião é um sistema organizado de crenças, práticas, rituais e símbolos designados para facilitar o acesso ao sagrado. A religiosidade se dá quando um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião e a espiritualidade é a busca pessoal para entender questões relacionadas ao sentido da vida e as relações com o transcendente – e pode ou não levar ao desenvolvimento de práticas religiosas.

“Revisões sistemáticas avaliaram que intervenções religiosas e espirituais tiveram resultados promissores, como menor ansiedade e depressão, em alguns contextos específicos, assim como menos dor, melhor funcionalidade e maior qualidade de vida em pacientes com câncer”, ela relatou. Apesar de reconhecer a importância de religião e espiritualidade no conjunto de estratégias para lidar com circunstâncias adversas, a professora Anita fez uma ressalva sobre o que chamou de um excesso de expectativas sobre a construção de uma maior resiliência psicológica, ou seja, a capacidade de se recuperar de reveses. “Cuidado para não usarmos a resiliência de maneira muito pródiga”, afirmou Anita, “como se estivesse ao alcance de todos. Pessoas desfavorecidas estão mais expostas, porque são impactadas continuamente. Não esqueçamos que vantagens geram vantagens e desvantagens geram desvantagens”.

A Duke University tem um centro dedicado à espiritualidade, teologia e saúde. A universidade criou inclusive uma Escala de Religiosidade, que abrange cinco questões envolvendo a frequência com que a pessoa vai a uma igreja, templo ou encontro religioso; a dedicação do seu tempo a atividades religiosas; se sente a presença de Deus; se crenças religiosas estão por trás de toda a sua maneira de viver; e se se esforça para viver a religião em todos os aspectos da vida. A médica norte-americana Christina Puchalski desenvolveu o Questionário FICA, que inclui perguntas sobre se o paciente gostaria que o profissional de saúde considerasse a questão da religiosidade/espiritualidade no tratamento. “Quando alguém está vivendo momentos de dor intensa, ou talvez enfrentando os momentos finais de sua vida, surgem muitas questões relacionadas com a espiritualidade. Não se trata apenas de administrar morfina ou medicamentos para aplacar a dor, e sim de ouvir aquele paciente”, defendeu em vídeo disponível no YouTube. Esse blog já havia tratado do assunto numa entrevista com o cardiologista Roberto Esporcatte, professor-adjunto de cardiologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e presidente do Gemca, o Grupo de Estudos em Espiritualidade e Medicina Cardiovascular. Na ocasião, ele disse que conhecer os valores espirituais do paciente deveria fazer parte da anamnese.

Foto: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=52164810