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Cirurgia robótica para idosos: sim ou não?

Tecnologia tem vantagens, mas geriatra tem que avaliar os riscos para o paciente

Por Mariza Tavares, do G1 Rio de Janeiro

Na semana passada, tive a oportunidade de acompanhar algumas das discussões e apresentações do Gero 2018, o simpósio anual do serviço de geriatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. O tema era dos mais contemporâneos e pertinentes: “Envelhecimento, tecnologia e humanização”, e um dos debates mais interessantes foi sobre prós e contras da utilização da cirurgia robótica em idosos. Apesar dos custos altos, essa é uma alternativa vantajosa, de acordo com o cirurgião Marco Nunes, membro da Sociedade Brasileira de Urologia: “é claro que há a necessidade de treinamento intensivo e precisamos chegar a um custo factível para a realização de um grande número de procedimentos, mas o fato de ser uma modalidade minimamente invasiva traz inúmeras vantagens”. Segundo ele, é importante conversar com o paciente para evitar falsas expectativas: “costumo dizer que a expectativa é a mãe da frustração. Nos casos de prostatectomia, os pacientes acham que a cirurgia robótica vai garantir 100% da sua potência e continência urinária. Realmente, o resultado em relação à potência tem se mostrado melhor, mas, no que diz respeito à incontinência, o desfecho é equivalente, embora o controle normalmente seja mais precoce”.

O professor e cirurgião geral Dario Birolini fez o contraponto citando a bibliografia existente sobre eventos adversos na cirurgia robótica: “nos Estados Unidos, um número não desprezível de dificuldades e de complicações continua ocorrendo. A comunicação da ocorrência desses efeitos adversos é voluntária e não está padronizada”, lembrou. Na sua opinião, nada substitui a individualização da assistência e a adoção de novas tecnologias deve se pautar pelo que for melhor para o paciente, que deve ser alertado quanto aos riscos e benefícios do procedimento. “Os cirurgiões devem ser treinados para executar de forma segura abordagens convencionais ou laparoscópicas antes de adotar a abordagem robótica”, concluiu, referindo-se à eventualidade na qual é necessário interromper a cirurgia robótica e realizar procedimento tradicional – a chamada cirurgia aberta. Ele teme uma especialização excessiva que transforme cirurgiões em “executores de tecnologia”.

A médica Maria do Carmo Sitta, do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas, afirmou que o objetivo do Programa de Avaliação Perioperatória do Idoso é justamente estimar o risco de uma cirurgia para o paciente geriátrico: “queremos administrar e minimizar os riscos, além de diminuir o tempo de internação e as complicações. Isso inclui também a autopercepção do indivíduo sobre sua saúde, um dado importante que nem sempre é valorizado”. A geriatra vê com bons olhos o avanço da cirurgia robótica, por causa das incisões menores, da redução da dor pós-operatória e melhor recuperação funcional, mas listou fatores que podem ter impacto negativo: “normalmente a cirurgia robótica demanda mais tempo de anestesia, o que pode trazer complicações. Outra questão relevante diz respeito ao posicionamento do paciente na mesa, que não pode ser alterado durante a cirurgia. Tudo deve ser levado em conta”, resumiu. No debate entre os três, houve uma feliz unanimidade: os novos profissionais devem estar prontos para a tecnologia, mas nada substitui a relação médico/paciente e a clínica deve ser soberana.

Foto: By Cmglee – Own work, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=39154360

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