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Estudo mostra impacto socioeconômico em mulheres que tem crianças com microcefalia

Pesquisa da Fiocruz, UFPE e instituição inglesa mostra sofrimento traduzido em dados

Por Diário de Pernambuco

Uma pesquisa desenvolvida em conjunto pela Fiocruz Pernambuco, Instituto Fernandes Figueira, UFPE e London School of Hygiene and Tropical Medicine, da Inglaterra, traduz em números o sofrimento e as dificuldades enfrentadas pelas mães e outras mulheres envolvidas nos cuidados diários das crianças nascidas com microcefalia em decorrência da síndrome congênita do zika desde 2015. Segundo o estudo Impactos sociais e econômicos da infecção pelo vírus zika, o custo médio com consultas em um ano foi 657% maior entre as crianças com microcefalia ou com atraso de desenvolvimento grave causado pela síndrome, em comparação às crianças sem comprometimento.

A quantidade de consultas médicas e com outros profissionais de saúde foram superiores em 422% e 1.212%, respectivamente. Já os gastos das famílias com medicamentos, hospitalizações e óculos, entre outros itens, foram entre 30% e 230% mais elevados, respectivamente, entre crianças com microcefalia e crianças sem microcefalia, mas com manifestações da síndrome, e entre crianças microcéfalas e aquelas sem comprometimento.

Os dados foram coletados de maio de 2017 a janeiro de 2018, no Recife, Jaboatão dos Guararapes e Rio de Janeiro. A pesquisa aplicou 487 questionários e realizou 147 entrevistas, envolvendo profissionais de saúde, mães e outros parentes de crianças com o vírus, mulheres grávidas e em idade reprodutiva, homens em idade reprodutiva e cuidadores de crianças com a síndrome. Segundo o levantamento, 50% das famílias têm renda entre um e três salários mínimos.

De acordo com a médica Tereza Lyra, coordenadora dos trabalhos em Pernambuco, o estudo identificou que “o ônus recai notadamente sobre as mães, que abrem mão de tudo, principalmente do aspecto social, para cuidar dos seus filhos.” A pesquisa constatou também que em Pernambuco o acesso aos serviços de saúde para crianças portadoras da síndrome vem melhorando. “Apesar da ampliação, ainda existem muitas dificuldades, porque os atendimentos nem sempre são no mesmo local. Como elas necessitam se submeter a vários tipos de procedimentos, os constantes deslocamentos significam problemas para as famílias. Infelizmente o tratamento da doença é muito complexo, é meio lento e suas respostas não são imediatas”, comentou

PÂNICO

A maioria das mulheres em idade reprodutiva expressou sentimento de pânico em referência à gravidez durante a epidemia de zika. Elas temiam, principalmente, o impacto sobre a criança, embora não compreendessem totalmente o termo síndrome congênita. Incertezas sobre como elas ou os bebês podiam ser infectados foram comuns.

Outro medo era de uma gravidez não planejada, pois estavam insatisfeitas com a oferta de métodos contraceptivos disponíveis nos serviços de saúde. No momento das entrevistas, a maioria usava hormônios injetáveis e relatou falta de informação e falhas nos métodos utilizados. O DIU não apareceu como opção e os homens mostraram-se ausentes do planejamento reprodutivo. Quase todos os entrevistados desconheciam a possibilidade de transmissão sexual do vírus zika e alguns ouviram informações sobre isso na televisão, mas não deram importância porque, na visão deles, não era um assunto recorrente na mídia.

Foto: Paulo Paiva/DP

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