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Orgulho das origens ajuda contra depressão no exterior, diz estudo

O esforço, por outro lado, pode trazer impactos negativos na saúde mental, como mostra um estudo recente conduzido nos Estados Unidos

Por Terra

Pesquisa mostra como jovens latinos nos Estados Unidos que mais se identificam com seu grupo étnico são menos propensos a desenvolver sintomas de depressão. Na tentativa de integrar os filhos ao novo país que escolheram viver, não é raro que imigrantes recorram a uma estratégia: fazer de tudo para parecer o máximo possível com os locais.

“Isso acarreta num estresse cultural que pode levar à depressão”, comenta Fernanda Cross, pesquisadora da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

Radicada nos EUA, a cientista e psicóloga brasileira pesquisa como a identidade étnica e cultural influencia o desenvolvimento da doença. Seu trabalho foi publicado num artigo na revista científica Development and Psychopathology: os jovens latinos que mais se orgulham das suas origens estão mais protegidos contra depressão.

“Dentro da família, a conservação da cultura e a transmissão dessas raízes latinas para os filhos trazem muitos benefícios, ajuda no desempenho escolar, por exemplo”, detalha Cross.

A cientista acompanhou ao longo de três anos 148 jovens latinos menores de 18 anos – grupo que inclui brasileiros que vivem nos EUA. A pesquisa considerou os seguintes aspectos étnico-raciais: a importância da etnia para a identidade dos adolescentes, a percepção sobre ser latino e a percepção dos demais sobre essa identidade.

O estudo revelou que os jovens que mais se identificam com seu grupo étnico são menos propensos a desenvolver sintomas de depressão.

“Ficou demonstrado que a maneira como esses adolescentes desenvolvem orgulho étnico e aprendem sobre o que significa ser latino pode servir como um amortecedor contra a depressão”, afirma Cross em entrevista à DW Brasil.

Segundo os pesquisadores que participaram da análise, a adolescência é um período crítico em que o indivíduo desenvolve sua identidade étnica, reforça a sensação de pertencimento a um grupo. Essas questões têm fortes impactos na vida pessoal, como desempenho acadêmico e bem-estar geral.

Parte da população que mais cresce nos EUA, latinos menores de 18 anos são também um dos mais expostos à depressão na adolescência.

Estudos realizados no país revelaram que 17% desse grupo sofrem com sintomas da doença. A taxa é a mesma entre negros (17%) e um pouco menor entre brancos (14%).

São vários os fatores que levam esses jovens a sofrer de depressão: discriminação, estigma de pertencer a um grupo estigmatizado como “inferior”, desconexão com a cultura.

“Por conta da discriminação, jovens estão sendo cada vez mais diagnosticados com sintomas de depressão. O risco é muito alto não somente para os imigrantes, mas para os filhos deles. Apesar de serem nascidos e crescidos nos Estados Unidos, eles recebem o mesmo nível de discriminação”, comenta Cross.

A pesquisadora baiana, que chegou ao país aos 19 anos, diz que o discurso negativo se acirrou desde que Donald Trump chegou à presidência. “A toda hora se ouve sobre deportações em massa, que os imigrantes não são bons para o país, etc”, exemplifica.

Os resultados da análise científica podem ajudar os serviços de saúde e as famílias a lidarem com o problema. “É preciso rebater esses ataques oferecendo aos jovens apoio e ressaltando o lado positivo de pertencer a esse grupo étnico, as contribuições históricas que deram para a economia, o fato de falar outra língua, entre outros aspectos”, afirma Cross. “A melhor maneira de os pais ajudarem, ao contrário do que muita gente pensa, é reforçar as raízes culturais e mostrar todo o benefício que essa riqueza étnica permite”, concluí.

 

Foto: DW