Pequeno dispositivo libera doses do remédio necessárias no período de um mês. Tratamento da doença exige que paciente tome antibióticos durante seis meses.
Por G1
Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) desenvolveram um tratamento contra a tuberculose que usa um dispositivo inserido no estômago para administrar doses diárias de medicamento durante um mês.
A tuberculose mata um milhão de pessoas todos os anos e o tratamento tradicional exige um ciclo de seis meses de antibióticos diários. Os pesquisadores acreditam que a invenção ajude a aumentar o acesso aos medicamentos, a manter a administração correta e a baixar custos para os sistemas de saúde.
O novo dispositivo consiste em um fio espiral carregado com antibióticos. Ele é inserido no estômago do paciente através de uma sonda nasogástrica. Depois, o dispositivo libera antibióticos lentamente, eliminando a necessidade de os pacientes ingerirem comprimidos todos os dias.
Traverso e Robert Langer, professor no MIT, são os principais autores do estudo, que foi publicado na revista científica “Science Translational Medicine”.
‘Colar de comprimidos’
O novo dispositivo é um fio fino e elástico feito de nitinol – uma liga de níquel e titânio que pode mudar sua forma com base na temperatura. Os pesquisadores podem amarrar até 600 “pílulas” de vários antibióticos ao longo do fio, e as drogas são embaladas em polímeros cuja composição pode ser ajustada para controlar a taxa de liberação do fármaco, uma vez que o dispositivo entra no estômago.
O “colar de comprimidos” é colocado no estômago do paciente por meio de um tubo inserido pelo nariz. Uma vez que o fio atinge as temperaturas mais altas do estômago, ele se enrola, o que impede que ele passe através do sistema digestivo.
Em testes em suínos, os pesquisadores descobriram que seu protótipo poderia liberar vários antibióticos diferentes a uma taxa constante por 28 dias. Uma vez que todas as drogas são entregues, o dispositivo é recuperado através da sonda nasogástrica usando um ímã que pode atrair o dispositivo.
Como parte do estudo, os pesquisadores entrevistaram 300 pacientes com tuberculose na Índia, e a maioria disse que esse tipo de procedimento seria aceitável para eles em um tratamento de longo prazo.
Novo sistema
Por vários anos, Traverso e Langer têm trabalhado em uma variedade de pílulas e cápsulas que podem permanecer no estômago e lentamente liberar a medicação após serem engolidas. Esse tipo de medicamento, acreditam eles, poderia melhorar o tratamento de muitas doenças crônicas que exigem doses diárias de medicação.
Uma de suas cápsulas mostrou-se promissora por administrar pequenas quantidades de drogas para tratar o HIV e a malária. Depois de ser engolido, o revestimento externo da cápsula se dissolve, permitindo que seis braços se expandam, ajudando o dispositivo a se alojar no estômago. Este dispositivo pode transportar cerca de 300 miligramas de drogas – o suficiente para uma semana de tratamento contra o HIV, por exemplo. No entanto, fica muito aquém da carga necessária para tratar a tuberculose, que requer cerca de 3 gramas de antibióticos todos os dias.
“Tivemos que desenvolver um sistema completamente novo que poderia permitir uma liberação automatizada desses medicamentos ao longo de cerca de um mês”, diz Malvika Verma, pesquisadora do estudo. “Este novo sistema pode conter muito mais drogas e pode liberar a droga por um longo período de tempo”.
Ajuda para outros tratamentos
Outra doença para a qual esta abordagem pode ser útil é a hepatite C, que requer tratamento com medicamentos antivirais por um período entre dois e seis meses. Muitas outras doenças infecciosas também exigem doses de medicação que são muito grandes para caber em um dos dispositivos menores que Traverso e Langer desenvolveram.
“Em muitas situações, os pacientes precisam tomar dosagens altas de uma droga, mas até agora, isso tem sido muito difícil de fazer”, diz Langer. “Acreditamos que essa nova abordagem é um marco importante para resolver esse problema”.
Este sistema também pode ser útil para a entrega de drogas que podem tratar o vício em álcool e outros tipos de abuso de substâncias, dizem os pesquisadores.
Foto: Malvika Verma/MIT