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Estudo liderado por brasileiros aponta relação entre perda de memória, excesso de peso e substância presente em comidas gordurosas

O palmitato, um componente achado principalmente em comidas industrializadas, foi associado a um déficit cognitivo em pessoas acima do peso e causou perda de memória em camundongos, segundo estudo feito por cientistas da UFRJ e da Unicamp

 

Por G1

 

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificaram que uma substância presente em comidas gordurosas e industrializadas, o palmitato, aparece em maior quantidade no cérebro de pessoas acima do peso, e, nelas, está relacionada a problemas de memória. Se essas pessoas também tiverem doenças como diabetes, hipertensão ou colesterol alto, o prejuízo ao cérebro pode ser ainda maior.

O estudo, publicado na revista “Cell Reports” na terça-feira (18), também constatou que a mesma substância é capaz de causar a perda de memória em camundongos.

Segundo Fernanda de Felice, da UFRJ, que coordena um dos grupos de pesquisadores, o estudo traz uma nova contribuição para entender como dietas pouco saudáveis podem contribuir para prejuízos cognitivos, incluindo a perda de memória.

O palmitato está presente em alimentos como carnes, leite e derivados, além de produtos industrializados como bolos, biscoitos e chocolate. A substância, explica Felice, já era conhecida como “vilã” para os tecidos do corpo em pessoas que sofrem com a obesidade.

“Não se sabia se ele também teria um efeito negativo no cérebro. Fomos testar justamente isso”, diz.

Teste em 49 voluntários

Para realizar o estudo, cientistas da Unicamp reuniram 49 pessoas – com obesidade, sobrepeso e peso normal – que tinham em comum a queixa sobre problemas de memória, explica Sérgio Ferreira, também da UFRJ.

Depois dessa pré-seleção, os especialistas do Rio de Janeiro examinaram o líquor – o líquido que banha o cérebro — para analisar a quantidade de palmitato ali. Eles perceberam que o sobrepeso e a quantidade elevada da substância, sozinhos, já estavam relacionados a problemas cognitivos.

“Mas a perda cognitiva parece ser agravada quando essas duas coisas são somadas a outras doenças, como o diabetes”, diz Sérgio Ferreira. “Sabemos que o diabetes tipo 2 é causado por excesso de gordura e açúcar na alimentação”.

O estudo, explica Felice, foi feito com poucas pessoas porque o líquido analisado requer uma punção – que é um processo invasivo – para ser retirado do corpo.

“Não é um processo que se queira fazer com muitas pessoas — e o comitê de ética não aprova. Normalmente, qualquer estudo que é feito com esse líquido é sempre bem restrito. É diferente, por exemplo, de um teste que é feito com sangue. Fora do Brasil, inclusive, é até mais difícil conseguir esse tipo de material”, afirma.

Ao mesmo tempo, ela lembra que, em testes feitos com humanos, como foi o caso desse, é possível conseguir dados que estabelecem relações, mas eles não conseguem mostrar uma relação de causa e consequência. “Para isso, partimos para os camundongos”, explica.

Testes com camundongos

Em paralelo, os cientistas injetaram o palmitato no cérebro de camundongos e descobriram que a substância causava perda de memória nos animais.

Com essa conclusão e a anterior, relacionada ao prejuízo cognitivo em humanos, a meta agora é entender se o palmitato estimula o desenvolvimento dos primeiros sinais de Alzheimer, explica Felice.

“É claro que tem vários componentes que favorecem ou previnem a pessoa de desenvolver a doença. Mas, como a gente vê que o cérebro sente o aumento do palmitato no corpo, pensamos se não pode ser um link que desencadeia o Alzheimer em alguns pacientes”, argumenta.

No ano passado, Felice, Ferreira e outros cientistas da UFRJ publicaram um estudo no qual apontaram um hormônio que podia reverter a perda de memória causada pela doença.

Na pesquisa publicada na terça (18), eles conseguiram impedir a perda de memória nos camundongos com um anticorpo, que já é usado em medicamentos para artrite reumatoide. Mas, em testes anteriores contra o Alzheimer, o recurso não deu certo. Felice lembra que a doença é complexa.

“Quando o paciente chega no neurologista com queixa de memória e vários sintomas, a gente já sabe que muitos problemas aconteceram, e por muitos e muitos anos — talvez décadas. A pesquisa em Alzheimer está evoluindo no sentido de tentar identificar a doença antes, para conseguir tratar melhor”, afirma.

 

Foto: Reprodução/Pexels