Os médicos têm um protocolo para definir o momento em que o paciente está livre da Covid-19 e pode receber alta do hospital
Por Saúde é Vital
Nas últimas semanas, as estatísticas da pandemia de Covid-19, a doença causada pelo coronavírus (Sars-CoV-2), vem subindo em velocidade assustadora. Hoje, dia 5 de maio, são mais de 3,6 milhões de infectados e 250 mil óbitos em todo o planeta. Em meio a esses dados, há outro fato que recebe pouca atenção: a quantidade de gente que sobreviveu ao problema.
De acordo com os últimos números divulgados na plataforma criada pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, já são 1 175 722 recuperados da Covid-19 no mundo. Isso significa que 32% de todos os casos sintomáticos confirmados foram tratados e parecem estar livres dessa ameaça.
Daí vem a pergunta: quando os especialistas consideram uma pessoa curada e livre do vírus? A infectologista Raquel Stucchi, da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que há dois caminhos para responder a essa pergunta. O primeiro é quando existem equipamentos laboratoriais disponíveis. “Se o hospital possuir o exame que chamamos de RT-PCR, é necessário que o paciente esteja 14 dias sem sintomas sugestivos e apresente dois resultados negativos nesse teste dentro de 24 horas”, diz a médica.
Em outras palavras, o sujeito não pode estar com falta de ar, dor no peito, febre, dificuldade para respirar e tosse por duas semanas. Na sequência, ele faz o tal do RT-PCR. Se o primeiro resultado não detectar o coronavírus em seu organismo, o exame é repetido no mesmo dia. Um segundo “negativo” no laudo indica que não há motivos para permanecer internado. Esse é o modelo adequado, pois permite ter mais segurança sobre a real situação de saúde.
A segunda possibilidade é quando esse exame não está disponível — o que, infelizmente, é comum na realidade brasileira. “Para ganhar alta nessa situação, é preciso estar sem febre por mais de três dias, além de não apresentar nenhum sintoma respiratório por uma semana”, diz Raquel. De volta a sua casa, o paciente deve tomar todos os cuidados, como usar máscara e não sair para a rua pelos próximos 14 dias. Se continuar tudo bem depois desse período, sem nenhuma recaída, o quadro é considerado como resolvido.
Vida normal após a cura do coronavírus?
Vale ainda frisar que a recuperação total da Covid-19 não significa que está tudo liberado. A pessoa que superou a infecção, assim como o resto da população, deve continuar respeitando as orientações das autoridades em saúde pública.
É importante então seguir em isolamento social quando possível. E aquelas medidas básicas de lavar as mãos, cobrir a boca e o nariz com o braço ao tossir ou espirrar e usar máscaras de tecido continuam essenciais.
Mas se estou livre da Covid-19, por que continuar nesse regime? “Primeiro, porque estamos em plena temporada de gripe e resfriado, doenças que podem ser prevenidas com essas mesmas estratégias básicas”, destaca Raquel.
Em segundo lugar, ninguém sabe ao certo ainda se uma primeira infecção por coronavírus garante imunidade em longo prazo.
A questão dos casos assintomáticos de Covid-19
Outro ponto que chama a atenção nessa história é a quantidade de gente que pegou a doença, mas não manifestou sintomas (ou até teve um incômodo ou outro, porém nada que afetasse o dia a dia e justificasse uma visita ao pronto-socorro). Estima-se que, só no Brasil, o número real de infectados seja de dez a 15 vezes superior ao que mostram os dados oficiais.
Essa subnotificação significa que a parcela de recuperados na população é maior ainda, concorda? E tal fato tem vários desdobramentos. O mais óbvio de todos é o de que não sabemos o real cenário do coronavírus no país — e, para ser justo, em boa parte do mundo.
Além disso, é necessário ter em conta que mesmo quem apresentou uma versão light da Covid-19 precisa continuar respeitando aquelas recomendações básicas (não sair de casa, higiene das mãos, etiqueta da tosse e do espirro…) enquanto não temos outras soluções efetivas disponíveis. Essa atitude demonstra uma consideração e um cuidado não apenas à própria saúde como ao bem-estar da comunidade.
Alguns cientistas, políticos e empresários pensam na possibilidade de exames em larga escala: aqueles indivíduos que já foram acometidos pelo vírus ganhariam uma espécie de “passaporte de imunidade” e poderiam circular livremente pelas cidades. Mas, novamente, essa é uma ideia que merece ponderações: além de não possuirmos testes suficientes para atender a população, não existe 100% de certeza se uma primeira infecção garantiria proteção permanente. O momento atual exige mais cautela do que apostas.
Foto: Andre Coelho/Getty Images