Independente disso, cientistas esclarecem que corpo humano pode estar protegido por outras células do sistema imunológico. Resultados são importantes para produção de vacina a longo prazo contra o Sars CoV-2.
Por France Presse
A imunidade baseada em anticorpos, adquirida após a cura da Covid-19, desaparece em alguns meses, de acordo com um novo estudo divulgado nesta segunda-feira (13). Mesmo que não seja a única forma de o corpo se proteger contra a doença, isso poderia complicar o desenvolvimento de uma vacina eficaz de longo prazo, alertam os cientistas.
“Se a infecção fornece níveis de anticorpos que diminuem em dois a três meses, a vacina potencialmente fará a mesma coisa e uma única injeção poderá não ser suficiente”, declarou a Dra. Katie Doncipal, autora do estudo.
O estudo do prestigiado King’s College de Londres ainda não foi revisado por pares e aguarda publicação em revistas científicas. Os pesquisadores estudaram a resposta imunológica de mais de 90 casos confirmados (incluindo 65 por testes virológicos) e mostraram que os níveis de anticorpos neutralizantes, capazes de destruir o vírus, atingem o pico médio em torno de três semanas após o início dos sintomas, mas depois diminuem rapidamente.
“Este trabalho confirma que as respostas de anticorpos protetores em pessoas infectadas com Sars CoV-2 (…) parecem decair rapidamente”, comentou Dr. Stephen Griffin, professor associado da Escola de Medicina da Universidade de Leeds (Reino Unido), que não participou do estudo.
“As vacinas em desenvolvimento deverão ou gerar proteção mais forte e duradoura contra infecções naturais ou ser administradas regularmente”, acrescentou o médico.
Pacientes leves e graves
Os exames de sangue mostraram que mesmo os indivíduos com sintomas leves da Covid-19 tiveram uma resposta imune ao vírus, mas geralmente com menos intensidade do que nas formas mais graves.
Além disso, apenas 16,7% dos indivíduos continuaram com altos níveis de anticorpos neutralizantes 65 dias após o início dos sintomas.
O estudo também tende a minar a hipótese de imunidade coletiva (imunidade de rebanho), que supõe uma proteção global, após uma alta porcentagem da população adquirir imunidade após ser infectada.
Células imunes em ação?
Especialistas apontam, no entanto, que a imunidade não se baseia apenas em anticorpos. O corpo humano também produz células imunes (B e T) que desempenham um papel na defesa do organismo.
“Mesmo que você não tenha anticorpos circulantes detectáveis, isso não significa necessariamente que você não tem imunidade protetora, porque provavelmente possui células de memória imune que podem rapidamente entrar em ação para iniciar uma nova resposta imunológica se ficar exposto ao vírus novamente, para que você possa ter uma infecção mais leve”, afirma o professor de imunologia viral Mala Maini, consultor da University College de Londres.
Até que mais informações sejam aprendidas, “mesmo aqueles com um teste de anticorpos positivo – especialmente aqueles que não sabem onde foram expostos – devem continuar a ter cautela, distanciamento social e uso de uma máscara apropriada”, alerta James Gill, professor honorário da Warwick Medical School.
Foto: Vitória McNamee / Getty Images / AFP