Pesquisas feitas em São Paulo e em Nova York apontam que identificar evolução da replicação do vírus pode ajudar na triagem de pacientes e administração de remédios
Por G1
Duas pesquisas divulgadas nesta quinta-feira (6) apontam que há uma relação entre a carga viral (quantidade) do novo coronavírus em pacientes hospitalizados e a mortalidade por Covid-19. Uma forte presença de material genético do Sars CoV-2 pode representar uma maior chance de morte, de acordo com os autores.
Um dos estudos é uma pesquisa brasileira, ainda em análise para publicação de revistas científicas, liderado por uma equipe da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os autores observaram dados do Hospital São Paulo entre os 14 de março e 17 de junho de 2020. Como funcionou:
- Foram incluídos 875 pacientes, que fizeram o teste RT-PCR e tiveram resultado positivo para o Sars CoV-2;
- Entre eles, 50,1% tiveram versão leve da doença, 30,4% a moderada e 19,5% a Covid-19 grave;
- A idade média do grupo foi de 48 anos (de 2 a 97 anos), sendo que 50,9% eram mulheres.
“O que a gente mostrou é que você tem uma carga viral aumentada de pacientes hospitalizados que morrem em relação aos hospitalizados que não morrem. E você tem também uma carga viral alta no início da infecção”, disse a coautora e infectologista Nancy Bellei.
A pesquisadora disse que saber a influência entre a carga viral e a mortalidade pode contribuir para quando a ciência identificar um medicamento viável. “Conhecendo a dinâmica da carga viral, seria interessante você estratificar esses pacientes. De repente, na hora que tiver droga, saber o momento certo de tratar e se é necessário tomar algumas precauções”.
Pesquisa americana
Seis cientistas analisaram dados de pacientes da Icahn School of Medicine at Mount Sinai, em Nova York. A coleta das informações ocorreu entre 13 de março e 4 de maio.
- Participaram 1.145 pessoas infectadas com o Sars CoV-2;
- A média de idade foi de 65,6 anos, sendo que 56,9% eram homens;
- O método escolhido para determinar alta e baixa carga viral foi a quantidade de cópias do vírus por mililitro.
Neste estudo, os autores demostram que também existe uma taxa de mortalidade maior entre pacientes com carga viral alta – uma chance 7% maior a cada cópia do vírus detectada.
Assim como os pesquisadores brasileiros, os americanos dizem que o estudo pode ajudar a estratificar melhor os pacientes, com estratégias de acordo com o risco de morte.
“A transformação do teste qualitativo em uma medida quantitativa da carga viral ajudará os médicos a estratificar os pacientes e a escolher entre as terapias e ensaios disponíveis. A carga viral também pode afetar as medidas de isolamento com base na infecciosidade”, escreveram os cientistas.
O estudo mostrou que a taxa de mortalidade foi de 46% em pacientes com carga viral maior, contra 22% para os pacientes com uma menor quantidade do vírus. Além disso, as pessoas que estavam no início da infecção mostraram uma maior quantidade do vírus.
Foto: NIAID-RML via AP