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Entenda como funciona a vacina contra HIV estudada na UFMG

Universidade brasileira se juntou a grupo de pesquisa internacional e agora coordena a fase 3 de testes clínicos do imunizante no Brasil

Por Revista Galileu

Enquanto a atenção da sociedade civil mundial está tomada pelos esforços relacionados às vacinas contra a Covid-19, a comunidade científica segue empenhada no trabalho de prevenção e combate a diversos patógenos além do Sars-CoV-2.

Cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estão participando de uma pesquisa para acabar com a epidemia provocada pelo vírus HIV. Embora o número de mortes relacionadas à aids esteja diminuindo no mundo, ela ainda causa muitas mortes — foram 690 mil só em 2019, segundo o Unaids.

Junto a instituições de oito países, a UFMG desenvolve um estudo, já em fase 3, sobre a eficácia de duas vacinas contra o vírus causador da aids.

A pesquisa, chamada Mosaico, é coordenada pela Rede de Ensaios de Vacinas contra o HIV (HVTN, na sigla em inglês) e tem financiamento da farmacêutica Janssen, da Johnson & Johnson. Nela, estão sendo testadas duas vacinas (Ad26.Mos4.HIV e Bivalent gp140) que, juntas, devem estimular uma resposta imunológica ampla o suficiente para reduzir os riscos de infecção pelo HIV, que é um vírus com muitos subtipos e diversas recombinações possíveis. Essas características explicam por que até hoje não foi possível desenvolver uma vacina com eficácia completa contra esse agente infeccioso.

A seguir saiba como funciona cada um dos imunizantes em teste:

Ad26.Mos4.HIV
Essa é uma vacina de vetor viral, na qual um vírus é usado como vetor para estimular uma resposta imunológica no corpo. Neste caso, o vetor adenovírus 26 (vírus comum em resfriados e infecções respiratórias) recebe sequências sintéticas do HIV e, ao ser aplicado, espera-se que estimule no corpo a produção de proteínas similares às do vírus da imunodeficiência humana.

A partir disso, o corpo enxerga essas proteínas como um invasor e estabelece uma resposta imunológica que as destrói. Assim, o sistema imunológico estaria pronto para reconhecer e, então, combater as mesmas proteínas do HIV, caso a pessoa seja exposta ao vírus futuramente.

Bivalent gp140
A outra é uma vacina proteica que também estimula a resposta imunológica por anticorpos. A diferença é que ela é feita a partir de proteínas produzidas pelo corpo humano que se assemelham a proteínas encontradas na superfície do HIV. No estudo, a vacina proteica é aplicada como um reforço à vacina viral. Segundo o professor da UFMG responsável pelos testes em Minas Gerais, Jorge Andrade Pinto, essa estratégia é desafiadora e necessária, já que a infecção pelo HIV requer um estímulo diversificado do sistema imunológico.

O site do estudo observa que as vacinas não oferecem risco de infecção por HIV ou aids, pois não são desenvolvidas com o vírus (esteja ele vivo, morto ou inativado) nem com células humanas infectadas com o HIV. Os imunizantes são feitos com cópias de pedaços do vírus criadas em laboratório. O adenovírus 26, utilizado na vacina de vetor viral, é uma versão enfraquecida do vírus que tampouco causa resfriados.

Falta de eficácia completa não é resultado ruim
Andrade Pinto, que é também coordenador do Grupo de Pesquisa em HIV/Aids em Crianças, Adolescentes e Gestantes da UFMG, defende que quanto mais modalidades de prevenção forem desenvolvidas contra o HIV, melhor será o combate ao vírus. A vacina tem papel importante nesse “arsenal”, que inclui a profilaxia pré-exposição (PrEP) e a profilaxia pós-exposição (PEP).

“Como o HIV é uma doença disseminada e de controle tão difícil, várias estimativas indicam que mesmo que a vacina não seja altamente eficaz, ainda vai poder diminuir bastante o impacto da epidemia”, sustenta o pesquisador em comunicado. Ele justifica a ideia apresentando cálculos que mostram que, se a vacina tiver 30% de eficácia e, hipoteticamente, for aplicada em 20% da população em risco de aquisição do HIV, cerca de 5 milhões de casos de infecção seriam evitados ao longo de 10 anos.

Funcionamento dos testes
No total, o estudo testará as vacinas em 3.800 pessoas, das quais 120 serão recrutadas pela UFMG até julho de 2021. Haverá sorteio aleatório entre grupo placebo e grupo ativo — aqueles que receberão o imunizante. Apenas um comitê externo saberá em quem a vacina foi aplicada.

O público participante do estudo são homens cisgêneros e pessoas transgêneros, de 18 a 60 anos, que fazem sexo com homens cisgêneros e/ou pessoas transgêneros. Os candidatos devem passar por triagem, avaliação clínica e exames.

Os voluntários receberão a aplicação de quatro doses de imunizante ao longo de três meses, sendo as duas primeiras com vacina de vetor viral e as duas últimas com ambas as vacinas (vetor viral e proteica). Após receber a primeira vacina, o participante passa a ser acompanhado pelos próximos 30 meses.

Para se inscrever, os interessados podem entrar em contato com a UFMG pelo telefone (31) 99331-3658 ou pelo email [email protected].

Foto: Pexels