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Anticorpos induzidos por vacinas dos EUA podem neutralizar menos variantes

Em novo estudo do Hospital Geral de Massachusetts, cepas originadas na África do Sul, no Brasil e no Japão demonstraram maior resistência aos imunizantes da Pfizer e da Moderna

Por Revista Galileu

Embora altamente eficazes em prevenir a contaminação pelo Sars-Cov-2 original, as vacinas desenvolvidas pelas empresas de biotecnologia Pfizer/BioNTech e Moderna, ambas nos Estados Unidos, podem ser menos potentes no combate às novas variantes do coronavírus. É o que aponta um novo estudo liderado pelo Instituto Ragon do Hospital Geral de Massachusetts, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e da Universidade Harvard.

Publicada na última sexta-feira (12) na revista científica Cell, a pesquisa avaliou amostras de sangue de 99 indivíduos que receberam uma ou duas doses das vacinas BNT162b2 (Pfizer/BioNTech) ou mRNA-1273 (Moderna), a fim de extrair o soro que contém anticorpos produzidos em resposta às injeções. Conhecidos como “neutralizantes”, esses anticorpos têm a função de “grudar” em alguma parte do vírus e impedi-lo de seguir seu curso de replicação nas células.

Para fazer os testes, foram usadas 10 versões sintéticas do Sars-Cov-2, que representavam as cepas do vírus espalhadas mundo afora. Cinco desses pseudovírus, por exemplo, apresentavam mutações no domínio de ligação ao receptor (RBD) da proteína spike – usada pelo novo coronavírus para infectar as células –, observadas na variante sul-africana B.1.351: K417N, E484K e N501Y.

Quando os cientistas colocaram o soro dos participantes em contato com os pseudovírus, perceberam que a eficácia dos dois imunizantes foi significativamente reduzida. Segundo Alejandro B. Balazs, um dos diretores do Instituto Ragon e líder do estudo, as três novas cepas descritas pela primeira vez na África do Sul eram entre 20 e 40 vezes mais resistentes à neutralização. “E as duas cepas do Brasil e Japão eram de cinco a sete vezes mais resistentes, em comparação ao Sars-Cov-2 original”, diz Balazs, em comunicado.

Os autores constataram que a maior resistência das cepas sul-africanas mostra que as mutações no RBD da proteína spike são mais propensas a ajudar o novo coronavírus a “escapar” dos anticorpos induzidos pelas vacinas. Quando um vírus sofre mutações no local onde se liga ao anticorpo – neste caso, na proteína spike –, fica menos reconhecível “aos olhos” dos anticorpos e, consequentemente, mais resistente ao seu ataque.

Os resultados, no entanto, não significam que as vacinas da Pfizer/BioNTech e Moderna não sejam eficazes contra a Covid-19. “[Nossas descobertas] apenas mostram que, dependendo da parte do vírus que a vacina vai atacar, os anticorpos podem ter problemas para reconhecer algumas dessas novas variantes”, analisa Balazs.

Contraponto

Quatro dias antes da publicação deste estudo, uma outra pesquisa liderada por cientistas da Universidade do Texas, também nos Estados Unidos, e da equipe de desenvolvimento da vacina da Pfizer/BioNTech, concluía o contrário: em testes de laboratório, o imunizante conseguiu neutralizar as variantes britânica (B.1.1.7), a brasileira (P.1) e a sul-africana (B.1.351) do novo coronavírus.

Publicado na revista The New England Journal of Medicine no dia 8 de março, o estudo afirma que a vacina apresentou uma resposta “robusta” contra as variantes do Brasil e Reino Unido, ao passo que teve uma capacidade de neutralização um pouco mais baixa, mas eficiente, em relação à sul-africana.

Apesar dos diferentes resultados, compreender quais mutações do novo coronavírus têm maior probabilidade de reduzir a eficácia das vacinas em uso pode ajudar no desenvolvimento dos próximos imunizantes contra a Covid-19, uma vez que, como todos os vírus, o Sars-Cov-2 tende a continuar sofrendo alterações à medida em que se espalha.

Foto: Alena Shekhovtcova/Pexels