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Artigo brasileiro sobre inatividade física na pandemia recebe prêmio

Mais citado no American Journal of Physiology em 2020, estudo da USP investigou influência de comportamentos sedentários para riscos cardiovasculares

Por Revista Galileu

Ainda no início da propagação da Covid-19 no Brasil, em março de 2020, pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) já estavam atentos aos possíveis impactos da pandemia na prática de exercícios e, consequentemente, na saúde populacional. Eles revisaram estudos anteriores que associavam inatividade física e sedentarismo a potenciais riscos cardiovasculares e publicaram um artigo com projeções relacionadas à quarentena. No final do último mês de abril, o artigo recebeu o “2020 Impact Award” como o mais referenciado no American Journal of Physiology ao longo do ano.

Conduzido pelo Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição da FMUSP, o estudo baseou-se em dados iniciais que mostravam diminuição da atividade física devido à quarentena, necessária para controlar a disseminação do novo coronavírus. Um levantamento da empresa de eletrônicos fitness FitBit revelou, em março do ano passado, uma redução entre 7% e 38% no número global de passos. Na época, o isolamento social já havia sido determinado há semanas ou meses em diversos países europeus e asiáticos.

“Não foi a pandemia que trouxe a inatividade física, ela só agravou um quadro que já é preocupante”, afirma o pós-doutorando Tiago Peçanha, um dos autores, em entrevista a GALILEU. Para ser considerada ativa, uma pessoa deve realizar ao menos 150 minutos de atividade física moderada a vigorosa ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana. Ou seja, você não está necessariamente sedentário quando não faz exercício o suficiente. O perquisador explica que o sedentarismo refere-se mais a situações cotidianas de baixo gasto energético, como passar muito tempo sentado ou deitado.

A equipe considerou ambos os conceitos de inatividade física e sedentarismo para revisar a produção científica sobre indicadores de riscos cardiovasculares. Uma das pesquisas analisadas evidenciou consequências como redução da massa muscular e piora na função de vasos sanguíneos. Tais efeitos foram observados em indivíduos saudáveis, acostumados a dar mais de 10 mil passos diários, que passaram a andar 5 ou 3 mil passos por dia durante duas semanas.

Já outro modelo em que pessoas foram deixadas sentadas de forma ininterrupta de três a cinco horas revelou, além da piora nos vasos, um aumento da pressão arterial e da glicose no sangue.

A boa notícia é que os efeitos não são permanentes, caso a pessoa inicie ou retome um hábito de atividade física anterior. A resposta, no entanto, não será tão rápida quanto as perdas sofridas pelo corpo. “É um processo mais longo, com mais falhas, mas é reversível. Eu acho que isso, de certa forma, reforça a importância da atividade física como uma medida de saúde pública, principalmente quando a gente conseguir se recuperar da pandemia”, comenta Peçanha. Inclusive para pacientes curados da Covid-19, que sofrem uma série de prejuízos funcionais, o exercício físico pode funcionar como um remédio, na opinião do pesquisador.

Após a publicação do artigo em maio de 2020, a equipe de especialistas deu continuidade aos estudos e iniciou a coleta de dados em voluntários associados à FMUSP. De fato, constatou-se uma redução na atividade física e um aumento no comportamento sedentário nos grupos estudados. Atualmente, estão sendo analisados números sobre programas de atividade domiciliar. “Em primeiro lugar, debatemos o problema, depois começamos a medi-lo em nossos pacientes e agora estamos na fase de tentar trazer soluções”, conta Peçanha.

Quase um ano depois da publicação do artigo, os pesquisadores receberam a notícia do prêmio com empolgação. Eles comemoram o sucesso do trabalho em meio à comunidade científica (com mais de 80 citações), na mídia e entre a população em geral. “Agora mais bem informadas sobre o impacto da pandemia na inatividade física e no risco cardiovascular, a tendência é que as pessoas possam buscar mais alternativas para combater esse problema”, avalia o pós-doutorando.

Foto: Alexandra Tran/Unsplash