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Pesquisa investiga relação entre anticoncepcionais e câncer de mama

Estudo suíço sugere que progestinas com propriedades andrógenas presentes em alguns medicamentos podem estar associadas a maior risco de proliferação da doença

Por Revista Galileu

Ao comparar como diferentes progestágenos – um dos principais componentes dos anticoncepcionais – afetam o tecido mamário de mulheres, pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), na Suíça, concluíram que algumas dessas substâncias podem estimular a proliferação de câncer de mama mais do que outras. Publicado pelo periódico EMBO Molecular Medicine nesta quinta-feira (27), o estudo lista três progestágenos que deveriam ser evitados pelo público: desogestrel (DSG), gestodeno (GSN) e levonorgestrel (LNG).

Os progestágenos (ou “progestinas”) são derivados sintéticos da progesterona – hormônio sexual que, nas mulheres, desempenha um papel-chave em processos biológicos como o ciclo menstrual, gravidez e desenvolvimento fetal. No estudo, pesquisadores investigaram como células epiteliais de mama humanas normais (HBECs, na sigla em inglês) reagem aos efeitos da exposição prolongada de seis progestinas amplamente usadas em anticoncepcionais mundo afora: desogestrel (DSG), gestodeno (GSN), levonorgestrel (LNG), acetato de clormadinona (CMA), acetato de ciproterona (CPA) e drospirenona (DSP).

Para isso, eles desenvolveram o que chamaram de glândulas mamárias de camundongo “humanizadas”: nos dutos de leite de roedores, foram enxertadas amostras de HBECs extraídas de mulheres que haviam realizado a cirurgia de mamoplastia redutora. Isso, segundo os especialistas, garantiu que fosse estabelecido um modelo pré-clínico relevante para a investigação.

Ao final da pesquisa, a equipe dividiu as progestinas em duas categorias: aquelas com atividades anti-androgênicas (CMA, CPA e DSP) e as androgênicas (DSG, GSN e LNG) – termo que se refere às substâncias que estimulam o desenvolvimento de características masculinas, como pêlos e massa muscular. Os resultados surpreenderam o grupo: enquanto essas últimas induziram a expressão de uma proteína que desempenha um papel importante na proliferação celular no epitélio mamário – a Rankl –, as anti-androgências não o fizeram.

“Ficamos surpresos ao descobrir que alguns deles [progestágenos] estimulam a proliferação celular na mama, enquanto outros não”, comenta Cathrin Brisken, pesquisadora da Escola de Ciências e Vida da EPFL e líder do estudo, em comunicado. De acordo com Fabio De Martino, ainda, especialista em câncer que também participou do estudo, a exposição de células mamárias humanas a progestágenos androgênicos por períodos prolongados causou “hiperproliferação e mudanças nas células que estão associadas a lesões pré-malignas precoces”.

O estudo sugere que, ao evitar contraceptivos hormonais com propriedades androgênicas – como o GSN, DSG e LNG, sendo este último um fármaco presente na chamada “pílula do dia seguinte” –, as mulheres podem reduzir o risco relativo de desenvolver câncer de mama. A pesquisa aponta, ainda, três opções que se mostraram “mais seguras” durante os testes – isto é, os anti-androgênicos: CMA, CPA e DSP.

Os pesquisadores recomendam que estudos clínicos sejam realizados para apoiar (ou refutar) as hipóteses levantadas pela investigação – que fez uso de modelos ex vivo e de xenoenxerto –, mas afirmam que os resultados abrem novas oportunidades para a prevenção do câncer de mama, uma vez que podem auxiliar não só decisões individuais, como políticas públicas em torno dos anticoncepcionais. “Pode ser possível prevenir o câncer de mama associado à contracepção, fazendo escolhas mais informadas, levando em consideração a composição molecular de um contraceptivo”, argumenta Brisken.

Foto: Reproductive Health Supplies Coalition/Unsplash

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