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Dor crônica está relacionada a maior risco de demência, diz estudo

Em pesquisa com dois mil participantes, pessoas com dor generalizada tinham 43% mais probabilidade de desenvolver qualquer tipo de demência e 47% mais risco de ter Alzheimer

Por Revista Galileu

Um novo estudo de pesquisadores da Universidade Médica de Chongqing, na China, investigou se há algum elo entre a dor crônica generalizada (CWP, na sigla em inglês) e dois tipos de problemas no sistema nervoso: a demência e o acidente vascular cerebral (AVC). A pesquisa surgiu porque, embora estudos anteriores já tenham indicado que a dor crônica pode ser um sinal precoce de declínio cognitivo, ainda não está claro se indivíduos com dor generalizada no corpo — um subtipo comum de dor crônica — também têm risco maior de desenvolver doenças que ameaçam o cérebro.

Os resultados da pesquisa foram publicados no periódico científico Regional Anesthesia & Pain Medicine nesta segunda-feira (16).

O estudo se baseou em dados de 2.464 participantes de segunda geração do chamado Estudo de Framingham, um projeto de pesquisa de longo prazo sobre o sistema cardiovascular liderado por instituições como a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e a Universidade de Cambridge, na Inglaterra, desde a década de 1990. Os voluntários são habitantes da cidade de Framingham, nos EUA.

O grupo foi submetido a um check-up abrangente, que incluiu um exame físico, testes de laboratório e avaliações detalhadas de dor entre 1990 e 1994. Além disso, os pesquisadores também coletaram dados sobre fatores que poderiam influenciar os resultados, como evidências de hipertensão e diabetes, índice de massa corporal (IMC), estilo de vida (fumo, consumo de bebidas alcoólicas, níveis de atividade física), situação de emprego, escores de depressão e renda.

A partir dessas informações, as pessoas foram divididas em três subgrupos: as que tinham dor generalizada, que é definida como dor que dura três meses ou mais, atingindo as regiões acima e abaixo da cintura, em ambos os lados do corpo, coluna vertebral e sequelas; as que sentiam outra dor (somente em uma ou mais articulações); e aquelas sem nenhuma dor. Os participantes foram monitorados continuamente por cerca de 10 anos.

Durante o período de análise, foram constatados 188 casos de demência de todos os tipos, 128 casos de doença de Alzheimer e 139 ocorrências de acidente vascular cerebral. Após levar em consideração os fatores que poderiam ter influência sobre esses números, os pesquisadores observaram que pessoas com dor generalizada tinham 43% mais probabilidade de desenvolver qualquer tipo de demência, 47% mais risco de ter Alzheimer e 29% mais chances de sofrer um derrame em comparação aos participantes sem a condição.

Resultados semelhantes foram obtidos no subgrupo de indivíduos com mais de 65 anos: 39% tiveram risco aumentado para todos os tipos de demência, 48% tiveram mais chances de ter Alzheimer, e 54% mais risco de sofrer um AVC. Esse risco aumentado, ademais, se mostrou independente de fatores como idade, sexo, saúde geral e estilo de vida.

“Esse estudo é, até onde sabemos, o primeiro a avaliar a associação entre dor generalizada, demência e acidente vascular cerebral, incorporando uma revisão detalhada de prontuários médicos e autópsias para minimizar as taxas de erro sobre a incidência e a influência de fatores de confusão”, avaliaram os autores no estudo.

Os pesquisadores consideram que as descobertas fornecem “evidências convincentes” de que a dor generalizada pode ser um fator de risco para todas as causas de demência, incluindo Alzheimer e acidente vascular cerebral. Ao mesmo tempo, o documento afirma que o número de casos foi pequeno e, por isso, os resultados devem ser considerados “geradores de hipótese”, o o que significa que eles “precisam ser replicados em estudos maiores”.

O texto também ressalta que a relação entre dor generalizada e declínio cognitivo é provavelmente multifatorial, envolvendo fatores que podem não ter sido avaliados durante a pesquisa.

“Os médicos devem estar cientes dessas associações e buscar um diagnóstico precoce para fornecer terapias oportunas para melhores resultados”, alertam os pesquisadores. “Pesquisas futuras em maior escala e longitudinais seriam necessárias para confirmar nossas observações ou resultados e para investigar os mecanismos subjacentes às associações relatadas.”

Foto: Kindel Media/Pexels