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Anvisa suspende uso e importação da proxalutamida; entenda

Diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiram por unanimidade, nesta quinta-feira (2/9), suspender temporariamente a importação da substância proxalutamida, assim como seu uso em pesquisas científicas no país.

Por BBC News Brasil

Em julho, médicos e pesquisadores publicaram um estudo no periódico científico Frontiers in Medicine com resultados favoráveis do tratamento da covid-19 com a proxalutamida. No Brasil, o endocrinologista Flavio Cadegiani se tornou uma das principais vozes na defesa desse possível tratamento, que foi endossado também pelo presidente Jair Bolsonaro.

Mas, de acordo com nota da Anvisa, o Ministério Público Federal (MPF) no Rio Grande do Sul e a imprensa revelaram indícios de que hospitais e clínicas podem ter testado o medicamento sem seguir as normas do Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), que analisa projetos de pesquisa envolvendo humanos e é uma etapa obrigatória para que estes estudos comecem.

Agora, a própria agência afirmou que vai instaurar um dossiê de investigação e um processo administrativo sanitário para apurar, entre outros pontos, se houve alguma irregularidade na apresentação de documentos que permitiram a importação da substância, solicitada por Flavio Cadegiani para fins de pesquisa.

“As medidas foram adotadas com base no princípio da precaução e sustentada no interesse público, evidenciada a necessidade de elucidação do caso, e serão mantidas até que sobrevenham novas informações que permitam uma deliberação definitiva pela Agência, a partir do aprofundamento das investigações em andamento”, afirmou a Anvisa.

Bem antes da decisão da agência, porém, os resultados de pesquisas apresentadas por defensores da proxalutamida haviam sido confrontados por outros cientistas em fóruns científicos online como o do site PubPeer e o For Better Science.

Em entrevista à BBC News Brasil em julho, o infectologista Mauro Schechter, professor-titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também apontou incoerências na pesquisa e seus resultados, como uma mortalidade muito alta no grupo controle (que toma placebo, uma substância inócua, na pesquisa), a rapidez na condução dos testes clínicos e o fato da proxalutamida não ser um antiviral.

A proxalutamida é um bloqueador de andrógenos (hormônios masculinos como testosterona) ainda sob testes e apontado como droga experimental contra câncer de próstata. Ela é produzido na China, mas ainda não é comercializada.

Em julho, o presidente Jair Bolsonaro demonstrou apoio aos testes com a proxalutamida, depois de ter falado dela em outras ocasiões nas suas redes sociais: “Tem uma coisa que eu acompanho há algum tempo e nós temos que estudar aqui no Brasil. Chama-se proxalutamida. Já tem uns meses que isso aí, não está no mercado, é uma droga ainda em estudo.”

A conexão entre o governo e a atuação de Flavio Cadegiani não se resume à proxalutamida. O endocrinologista defendeu, como o presidente, o chamado “tratamento precoce” — conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19 — e é autor do estudo que embasou o aplicativo TrateCov, do governo federal, que acabou retirado do ar.

Foto: Reuters