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Pesquisadores canadenses criam moléculas capazes de neutralizar Sars-CoV-2

Em culturas de células humanas, peptídeos conseguiram se ligar ao receptor ACE2 antes da proteína spike, utilizada pelo coronavírus para infectar o hospedeiro

Por Revista Galileu

Cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá, criaram imitações de peptídeos, chamadas de peptidomiméticos, que neutralizaram o coronavírus Sars-CoV-2 e interromperam a infecção em culturas de células humanas. Os resultados dos experimentos laboratoriais foram publicados no periódico científico Journal of Medicinal Chemistry no último dia 8 de outubro.

Os peptidomiméticos em questão, pertencentes ao grupo dos D-peptídeos, foram projetados pela equipe para imitarem a proteína spike, utilizada pelo coronavírus para se ligar a uma substância presente na superfície de várias células do corpo humano — o receptor ACE2. As moléculas criadas pelos pesquisadores se mostraram capazes de se ligar a esse receptor antes do próprio vírus, impedindo, assim, a infecção em seu estágio inicial.

Os testes em culturas de células humanas foram realizados com colaboradores de dois laboratórios de alta segurança na Coreia do Sul. De acordo com o estudo, os D-peptídeos também neutralizaram com uma potência semelhante a infecção pelas variantes Alpha (antiga B.1.1.7 ou “variante do Reino Unido), Beta (antes B.1.351, originada na África do Sul) e Gama (antiga P.1, rastreada pela primeira vez em Manaus).

Embora não tenham investigado a Delta, que ainda não circulava quando o estudo estava em andamento, os pesquisadores estimam que a cepa também seria suscetível a drogas peptídicas, considerando semelhanças de seu domínio de ligação ao receptor em relação às outras variantes.

Pequenas e de baixo custo

Esses novos bloqueadores dos estágios iniciais de infecção pelo coronavírus são apontados pelo estudo como “candidatos promissores para o desenvolvimento de tratamentos profiláticos ou terapêuticos” contra a Covid-19. “Uma grande vantagem dos D-peptídeos é sua longa estabilidade e o fato de serem relativamente baratos de produzir”, avalia Philip Kim, professor de genética molecular na Universidade de Toronto e autor sênior do estudo, em comunicado.

Ao contrário dos peptídeos “naturais”, que no corpo humano são rapidamente degradados por enzimas que evitam a disseminação de versões nocivas produzidas por microrganismos, as imitações de peptídeos têm uma geometria incomum que as tornam resistentes à degradação.

Uma vez que eles podem ser projetados para se ligar a qualquer alvo molecular, esses peptídeos são semelhantes a anticorpos mas, graças ao seu tamanho pequeno, são mais baratos. A combinação de baixo custo e fabricação simples torna-os atraentes, especialmente para países de baixa renda.

Uma entre muitas

Embora os pesquisadores tenham criado uma possível intervenção terapêutica em tempo recorde — os testes se deram no primeiro ano da pandemia, em 2020 —, os resultados foram publicados em uma fase da crise de saúde global em que vários tratamentos contra o coronavírus já estão disponíveis ou em andamento, como as vacinas e os coquetéis de anticorpos.

Por isso, a equipe atualmente trabalha na criação de novos compostos capazes de neutralizar não só o Sars-CoV-2, mas todos os coronavírus, como o Sars e o Mers.

Foto: NIAID