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Traumas no esporte: por que a saúde cerebral corre risco

Estudos comprovam que esportes como futebol americano, boxe e até o futebol podem causar danos cerebrais; neurologista explica doença degenerativa comum em atletas

Por Infovital

A prática de esportes tem benefícios reconhecidos cientificamente para a saúde física e mental, mas alguns deles podem trazer riscos, sobretudo para o cérebro. Portanto, cuidado e atenção nunca devem ser tratados como exagero. É o caso de esportes como futebol americano, boxe e até mesmo o futebol, modalidade mais praticada no Brasil.

Para entender melhor sobre esses perigos, o Infovital conversou com o neurologista Ivar Brandi, que falou sobre a encefalopatia traumática crônica (ETC), uma doença degenerativa comum em atletas de boxe e futebol americano.

Futebol americano

Desde o início dos anos 2000, o neuropatologista Benett Omalu bateu de frente com a NFL (Liga Nacional de Futebol), apresentando estudos que associavam a ETC ao esporte, depois de examinar o cérebro de um ex-jogador que havia se suicidado e apresentava severas dores de cabeça.

Somente em 2016, um ano após o lançamento do filme “Um homem entre gigantes”, interpretado por Will Smith, e que aborda o confronto de Omalu com a NFL (Liga Nacional de Futebol), a entidade admitiu que poderia haver uma relação entre o futebol americano e a doença.

O médico ouvido pelo Infovital explica que os mecanismos responsáveis pela condição envolvem alterações na proteína tau, que é importante para manter a estrutura normal dos neurônios.

“Há um acúmulo dessa proteína nos neurônios e com o passar do tempo, a alteração se dissemina por diversas áreas do cérebro”, completa o especialista.

Segundo um estudo realizado em Boston, que avaliou o cérebro de 266 atletas já falecidos, os riscos de jogadores de futebol americano desenvolverem a ETC dobra a cada 2 anos e 6 meses de futebol jogado.

‘A demência do pugilista’

Além de ser frequente em atletas de futebol americano, a encefalopatia traumática crônica também ocorre em muitos boxeadores, tanto que a doença já foi conhecida popularmente como demência pugilística. Ela foi detectada pela primeira vez em 1928, quando um médico norte-americano investigou sintomas em ex-boxeadores.

De acordo com Ivar, os sintomas da ETC podem incluir alterações de comportamento e do pensamento como paranoia, impulsividade e agressividade, além de depressão e distúrbios do movimento semelhantes à doença de Parkinson. O médico afirma que na maioria dos casos a condição é progressiva e degenerativa.

Um dos casos mais famosos é do ex-pugilista Muhammad Ali, um dos maiores astros da história do esporte, que desenvolveu a parte parkinsoniana da doença. Ele faleceu aos 74 anos, depois de batalhar por 32 anos contra a condição, causada pela série de impactos cranianos ao longo de sua carreira.

Os perigos do futebol para o cérebro

Nem mesmo o futebol, esporte mais praticado no Brasil e no mundo, escapa dos perigos ao cérebro. São recorrentes os episódios de concussões cerebrais durante as partidas, lesão que pode gerar um trauma direto ou indireto no cérebro, causado por um impacto na cabeça.

Em 2016, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) publicou um relatório sobre as lesões do Campeonato Brasileiro daquele ano, que indicou que 10% delas eram traumas na cabeça, e dessas, 40% representavam concussões cerebrais.

Outro perigo para o cérebro que o futebol pode causar são os simples cabeceios, recurso muito comum no esporte. Um estudo desenvolvido pelo Albert Einstein College of Medicine, mostrou que cabecear a bola com frequência pode prejudicar o órgão.

Foram analisados 37 jogadores amadores, com média de idade de 31 anos e que jogavam futebol desde a infância. O estudo constatou que aqueles que mais cabeceavam a bola, tinham mais lesões cerebrais similares às observadas em pacientes com concussões.

Além disso, o relatório apontou que os jogadores que mais cabeceavam apresentavam piores resultados nos testes de memória e velocidade psicomotora. Segundo os especialistas, a bola pode alcançar até 50km/h em uma partida de futebol amador e o dobro em um jogo profissional.

Tratamento para a doença instaurada

O Dr. Ivar explica que após o diagnóstico da doença, mesmo com a interrupção da prática das atividades e sem a ocorrência de mais traumas, pode haver progressão dos sintomas.

Uma das estratégias de tratamento é, segundo ele, o uso de técnicas de neurorreabilitação, que podem ser aliadas com uso de medicamentos indicados por cada médico.

Foto: Shutterstock