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Sustentabilidade, diálogo e eficiência são os desafios dos hospitais privados em 2023

Dentre os desafios dos hospitais privados para o próximo ano, o aumento do diálogo e a busca de eficiência não são mais apenas opção

Por Futuro da Saúde

Executivos e gestores da saúde de todo o Brasil se reuniram durante o CONAHP 2022 para debater os desafios dos hospitais privados e caminhos para o próximo ano. Com a questão da sustentabilidade do setor batendo à porta, há um consenso de que 2023 será o ano de tornar os hospitais mais eficientes e aumentar os diálogos com as operadoras de planos de saúde. Os desafios são enormes, mas os caminhos possíveis.

As conversas entre os dois elos da cadeia sobre novos modelos de pagamento têm sido mais frequentes, mas com os altos custos da saúde, o envelhecimento da população, os impactos da pandemia e as questões econômicas mundiais, é necessário avançar ainda mais. Quem não buscar ajustes e encontrar soluções viáveis, corre o risco de sofrer os impactos.

“Não é questão de disposição, é uma necessidade. A vantagem é que para 2023 nós não temos opção: ou vamos fazer isso ou não conseguimos sustentar o padrão de qualidade. Quando não é uma opção é bom, porque não tem muito o que discutir. Faz”, aponta Fernando Torelly, CEO do Hcor.

Grupos que focaram em fusões e aquisições agora vão mirar na estabilidade dos negócios, na integração dos dados, na uniformização de protocolos e no fortalecimento das equipes, encontrando a cultura da rede. Aos hospitais que não entram nesta categoria, precisam criar parcerias com outras instituições e manter um bom relacionamento com quem já atua próximo, caso não queiram ser incorporados por conglomerados.

Para isso, os líderes esperam uma estabilidade na saúde, principalmente do ponto de vista das leis e regulamentações, evitando mudanças robustas sem definições claras, como o rol exemplificativo e o piso salarial de enfermagem. Com uma nova gestão no Governo Federal a partir de janeiro, os diálogos entre o público e o privado precisam se tornar mais abertos para que pautas, como a atualização da tabela SUS, sejam recebidas e saiam do papel.

Eficiência é a palavra-chave nos desafios dos hospitais privados
Apesar de ser tema frequente de rodas e debates, a sustentabilidade do setor vai precisar sair do papel em 2023. Para isso, os hospitais vão precisar focar na eficiência, reduzindo os custos desnecessários, adequando os processos e adotando melhores práticas, e principalmente propondo novos modelos de remuneração com as operadoras. O uso da tecnologia vem para contribuir, assim como parcerias com healthtechs que propõem novas soluções.

De acordo com Henrique Salvador, presidente da Rede Mater Dei, o caminho dos hospitais para o próximo ano deve ser nesse sentido: “Existem estudos mostrando que até 30% do que se gasta no setor é desperdício. As entidades que não tiverem isso hoje na mira, na questão da eficiência, certamente vão ter a sustentabilidade comprometida e vão acabar afetando o setor como um todo. A inovação também é fundamental, e não digo só sobre incorporação de tecnologia. É pensar novos processos e no dia a dia, melhorando a experiência do usuário, KPIs e resultados assistenciais”.

Outra instituição que segue na mesma direção é o Hospital Moinhos de Vento. Com uma equipe robusta de profissionais focados no monitoramento de protocolos, práticas clínicas e desfechos, vem perseguindo a meta de ser cada vez mais eficiente, sem perder de vista o foco no paciente. Para o CEO do hospital, Mohamed Parrini, os estabelecimentos precisam se tornar cada vez mais custo-efetivos:

“Eliminando desperdício, trazendo tecnologia e interoperabilidade de dados, para podermos acompanhar a jornada desse paciente não só na na minha instituição, mas fora dela. Hoje ele está perdido no sistema, e isso para uma única rede ou hospital fazer, é mais complexo. A inteligência de dados vai ser o futuro se quisermos ser mais eficiente”.

Modelos de remuneração precisam avançar
Mohamed é cético quanto aos avanços junto às operadoras parceiras e cobra mais abertura para propor novos negócios. Apesar da necessidade, ele afirma não ver ações práticas que perdurem a médio ou longo prazo e acredita que o imediatismo do mercado é um dos pontos que precisam ser melhorados.

Mesmo que já tenham iniciativas com novos modelos de remuneração, que fogem do fee for service, o CEO do Moinhos de Vento acredita que é possível ganhar escala. Segundo ele, não é o ideal a forma que se trabalha hoje, com contratos e previsões na saúde de apenas 12 meses, período que comumente empresas fecham contratos com operadora. Ele acredita que o investimento do cuidado deveria ser de um período entre 5 ou 10 anos.

Dessa forma, seria viável ampliar as negociações, desde que todos “estivessem com o mindset aberto para poder dialogar novos modelos, quando os interlocutores também têm uma visão de médio ou longo prazo, não de curto prazo sobre o lucro daquele ano. O Moinhos está fazendo 95 anos e estará daqui 100 anos, mas não sei se essas operadoras estarão”, indaga Mohamed.

O Hcor vem trabalhando novos modelos de pagamento desde 2020. À época, 87% do faturamento do hospital era feito através do fee for service, fatia que hoje já foi reduzida para cerca de 60%. Nesse período, o hospital teve um aumento do seu faturamento total em 41%, o que mostra que não é preciso os hospitais terem receio ao adotar modelos alternativos.

No entanto, Fernando Torelly, CEO do Hcor, alerta que alterar os modelos de remuneração não necessariamente é a solução para a sustentabilidade do sistema. Com o alto número de casos que chegam à alta complexidade, que provocam os maiores gastos dos planos de saúde, é necessário que se discuta a prevenção e o cuidado ao longo da vida. Ele explica que “existem várias iniciativas de modelo de remuneração no hospital, mas estamos vivendo um momento onde as operadoras de planos de saúde estão com alta sinistralidade. Então, parece ter uma sensação de que esses modelos não deram resultados. Mas vamos trabalhar para melhorar isso”.

Já a Rede Mater Dei aposta na tecnologia para encontrar os nichos onde podem ser aplicados modelos alternativos junto às operadoras. O presidente do grupo, Henrique Salvador, explica que a boa relação histórica com as empresas de planos de saúde facilita o diálogo:

“Desenvolvemos produtos mais agressivos de remuneração onde assumimos mais riscos. Inclusive, compramos parte da A3Data, empresa de data analytics e inteligência artificial, para entender qual a população que vamos trabalhar e o perfil de utilização de recursos, para assim oferecer produtos. Assim, podemos construir diárias globais, bundles e novos modelos de remuneração que visem à eficiência e geração de valor”.

Consolidação dos negócios e novos produtos
Depois da abertura de capital, que ocorreu há menos de 2 anos, a Rede Mater Dei trabalhou em um primeiro momento para a aquisição de hospitais, saltando de 3 para 10 unidades, em um processo agressivo de expansão. O desafio para 2023 é consolidar, absorver e padronizar os protocolos. O presidente também defende um olhar mais focado na retenção do colaborador, com a construção de uma cultura da empresa e investimento em formação. Diversos hospitais ao redor do país já têm expandido sua atenção para ensino e pesquisa, o que pode contribuir com a valorização dos profissionais.

“É um momento de muita atenção onde precisamos cuidar da cultura da organização, da eficiência, reduzir desperdícios, melhorar margens, porque através delas é que retroalimentamos o negócio, investindo em segurança, qualidade, desenvolvimento de pessoas e processos. É uma agenda intensa, mas necessária”, analisa Salvador.

Confiando na sua capacidade de gestão, o Hcor aposta em um novo produto para o próximo ano. O hospital passa a oferecer um serviço de consultoria a hospitais, onde levará a experiência da eficiência dos serviços, com protocolos clínicos e metodologias próprias. O CEO da entidade, Fernando Torelly, afirma que esse é um projeto que vem para contemplar um plano de crescimento, dada a alta demanda de pacientes.

Por ser um grupo independente, beneficiente e fundado por imigrantes, como outros hospitais ao redor do país, o Hcor não entra no radar de fusões e aquisições. No entanto, Torelly defende que para se manterem vivos nesse cenário, é preciso fortalecer as relações com outras instituições do mesmo tipo. “Hoje existem poucas parcerias, que vão ter que aumentar, já que o mercado está se consolidando e os filantrópicos vão ter que encontrar um jeito de fazer isso”.

Futuro das instituições
Em uma perspectiva mais a longo prazo, os hospitais do futuro serão aqueles que sabem trabalhar os dados, sejam eficientes na redução de custos, ofereçam serviços digitais, utilizem a tecnologia como aliada para humanizar e consigam expandir o acesso. E ainda, será um local onde os pacientes só irão em casos imprescindíveis.

Para isso, as unidades começam a estudar as mais diferentes possibilidades e estudar como a eficiência e o cuidado podem caminhar lado a lado. O CEO do Moinhos de Vento, Mohamed Parrini, acredita que a utilização wearables vai colaborar com o monitoramento dos pacientes. “Vamos ter que nos adaptar a isso, criar modelos de negócios em que estamos juntos com o diagnóstico precoce e os acessórios, para entender aonde vai ser a nossa parte na gestão do cuidado de saúde. Cada vez menos pacientes irão aos hospitais e isso é bom”, analisa.

Henrique Salvador, da Rede Mater Dei, também acredita nisso. Os hospitais e equipes de profissionais da saúde vão monitorar e orientar remotamente os pacientes, principalmente aqueles com doenças crônicas e degenerativas. Segundo ele, a sociedade irá demandar cada vez mais de soluções que conectem as pessoas, no sentido de permitir que a relação de médicos e enfermeiros siga cuidadora com os pacientes.

Mas para alcançar esse objetivo, é preciso que não só os hospitais invistam em tecnologia e proponham novos modelos de cuidados aos pacientes. As fontes pagadoras, como as operadoras de saúde, precisam topar a investida e se adaptar, para entender como os hospitais serão remunerados nesse sentido.

“Não adianta defender uma posição ou outra, porque tem situações de pacientes que precisam ou não estar internados. O problema é que quando você está internado a operadora paga a conta do hospital, e muitas vezes quando leva o paciente para casa, no atendimento domiciliar, fica por conta da família. Não há um incentivo financeiro para isso”, instiga Torelly, CEO do Hcor.

Foto: Reprodução/Futuro da Saúde