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Saúde digital e inteligência artificial podem mudar a realidade dos pacientes com câncer

Construção de um banco de dados robusto e de qualidade é essencial para a utilização de inteligência artificial na oncologia.

Por Futuro da Saúde

 

O desenvolvimento de tecnologias de suporte aos médicos e pacientes tem ganhado cada vez mais força dentro do setor da saúde, principalmente por parte das healthtechs. A oncologia é uma das principais áreas que busca se beneficiar delas, em especial da utilização de inteligência artificial, considerando a complexidade dos diagnósticos e tratamentos. Mas para que isso mude a realidade dos pacientes com câncer, é preciso que haja avanços no que já foi feito até aqui.

Durante o XXIII Congresso da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), em novembro, o tema foi parte da programação e profissionais da saúde e tecnologia puderam ter contato e discutir as possibilidades e desafios para o uso na prática clínica.

Victor Gadelha, head de Inovação Médica em Hospitais da DASA, acredita que é preciso ter cautela. Apesar de já termos ferramentas que contribuem com a análise de exames de imagens, por exemplo, a ideia de que a inteligência artificial sozinha poderá diagnosticar uma doença se distancia da realidade. Para ele, a tecnologia hoje serve para ganhar eficiência:

“Quando essa nova técnica de deep learning começou a ser mais empregada, em 2012, em um primeiro momento achamos que seria a nossa salvação, que poderíamos fazer coisas complexas e, como médico, pensamos logo na capacidade diagnóstica. Mas na verdade, existem diversas tarefas intermediárias que ocupam muito tempo e que a inteligência artificial pode ocupar esse espaço”.

Para chegarmos a um patamar acima na usabilidade dessas ferramentas, Gadelha explica que é preciso avançar em três frentes principais: educação, organização dos bancos de dados e sistemas que conversem com os profissionais da saúde, que preenchem as informações necessárias, mas não podem perder de vista a agilidade e demanda dos serviços. No início de dezembro a Dasa inaugurou sua primeira unidade exclusiva de oncologia, localizada no Rio de Janeiro, RJ.

 

De médico para médico
Na avaliação de Henry Najman, oncologista clínico e coordenador do Centro Avançado de Oncologia da Oncologia D’or e Hospital Quinta D’Or, “a inteligência artificial veio para ajudar o homem a enxergar melhor os benefícios do diagnóstico e do tratamento oncológico, acelerando e transformando o progresso em pesquisa permitindo um trabalho de melhor qualidade, mais personalizado e preciso“.

Em sua visão, a inteligência artificial já possibilita grandes feitos para o tratamento oncológico. Ele aponta, por exemplo, a análise de biópsias líquidas, para determinar a terapia mais adequada a cada tipo de tumor, e a utilização de radioterapia estereotáxica corporal, que utiliza altas doses de radiação em uma localidade bem definida, diminuindo o impacto em tecidos e órgãos próximos ao tumor. São tecnologias que, segundo o médico, ajudam, calculam e executam, mas que o homem segue no comando.

Henry reforça que a utilização de tais ferramentas estão diretamente ligadas às informações capturadas dos prontuários dos pacientes, o que “permite tomadas de decisões médicas a partir dos seus próprios dados, criando estratégia na análise destes dados, organizando, interpretando e criando algoritmos que são capazes de propor soluções para problemas médicos. É possível obter avanços nos tratamentos, pois com a ajuda da inteligência artificial, os profissionais poderão encontrar novas soluções e tratamentos mais adequados”.

Apesar dessas ferramentas serem desenvolvidas, em geral, por pessoas que trabalham na área da tecnologia, Victor Gadelha, da Dasa, avalia que é preciso que os médicos participem do processo de construção, já que são eles que podem trazer queixas e dificuldades do dia a dia da atuação clínica, assim como apontar possíveis variáveis que possam ocorrer: “Nesse momento que estamos mudando da medicina baseada em evidências para uma medicina mais personalizada, temos um grande bloco de escala médica que vai ser refeita para evoluir para um modelo baseado em algoritmo”.

A ideia de que médicos vão ser substituídos por máquinas é algo ainda muito abstrato, na visão de Gadelha. Ele aponta que, na verdade, médicos que não saibam utilizar tecnologias e não querem se atualizar serão gradualmente substituídos por médicos dispostos a evoluir junto à ciência e às ferramentas disponíveis.

 

Saúde digital para mudar a realidade dos pacientes com câncer
A utilização da telemedicina, prontuário eletrônico, wearables e outras plataformas, têm modificado o modo que as informações são captadas. Com o avanço da saúde digital, a longo prazo essas ferramentas vão possibilitar uma ampliação da utilização da inteligência artificial, em especial na oncologia, assim como permitir que pacientes só busquem um hospital em casos imprescindíveis, como avalia Thiago Jorge, oncologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e diretor médico da WeCancer:

“O digital vai permitir acesso das pessoas a tratamento de qualidade onde quer que elas estejam. Cada vez mais vemos tratamentos que não necessitam estar dentro de um hospital para serem feitos e muitas vezes os pacientes não têm acesso a esses tratamentos porque o médico que está em uma área mais periférica talvez não tenha os mesmos acessos que aqueles em centros maiores”.

Algumas iniciativas nesse sentido já vêm sendo testadas no mundo e em breve poderão revolucionar a forma como é feito o tratamento oncológico. Com o uso de wearables e smartphones, as equipes de saúde podem monitorar o paciente à distância, com profissionais se deslocando até o domicílio para realizar aplicações e exames que necessitam de suporte e manejo dos efeitos colaterais. Em um primeiro momento, o oncologista aponta que drogas mais estáveis e seguras serão utilizadas.

Isso pode, inclusive, contribuir com a redução de custos, tanto do hospital quanto do paciente. Ele alerta que exames de acompanhamento em pessoas com câncer podem ser vistos como desnecessários, já que em geral pouco alteram na conduta médica. Para aqueles pacientes que precisam se deslocar até o hospital, também seria possível reduzir os gastos com estacionamento e deslocamento.

Ainda, a tecnologia também pode contribuir com as pesquisas clínicas. Devido aos centros oncológicos e universidades que participam de estudos sobre terapias oncológicas estarem majoritariamente em grandes capitais, pessoas que moram na zona rural, interior dos estados e em áreas remotas acabam tendo mais dificuldade em se deslocar para participar dessas pesquisas. Com isso, além de ter uma dificuldade de acesso às inovações, há uma menor variedade dos participantes ao que diz respeito a gênero, raça, etnia, classe social, entre outros fatores.

O oncologista explica que com a utilização da tecnologia, “podemos atingir populações que por problemas sociais não conseguimos atingir. Existem pacientes que poderiam estar nesses estudos e não estão, e desta maneira, conseguindo levar para as periferias e usando processos de maneira mais inteligente, fácil e rápida, conseguiríamos fazer com que essas pessoas entrem nesses estudos”.

Foto: Reprodução/Futuro da Saúde