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Grau de maturidade com ESG avançou, mas comprometimento precisa ser maior

Avanços foram percebidos na área de ESG, mas organizações possuem longo caminho a percorrer

Por Futuro da Saúde

Longe de ser apenas uma responsabilidade ética, a pauta ESG – ou ASG, em português, que significa ambiental, social e governança – hoje é vista como uma forma de garantir a estabilidade e o crescimento a longo prazo das organizações. Mas mais do que uma oportunidade, há na verdade uma necessidade de dar maior ênfase ao tema pensando acima de tudo no futuro da sociedade, além do desempenho financeiro das empresas e da reputação. E os reflexos disso na saúde são cada vez mais claros.

Isso porque as empresas que atuam nessa área são impactadas de diferentes formas. De um lado, assim como outras indústrias, as empresas, instituições e estabelecimentos do setor utilizam recursos, produzem materiais que precisam ser descartados corretamente, emitem gases de efeito estufa, dentre outras coisas. O relatório “Pegada do clima nos sistemas de saúde: como o setor de saúde contribui para a crise climática global e oportunidades de ação”, um estudo da Arup e da Health Care Without Harm, chegou a apontar que se os sistemas de saúde mundiais fossem equiparados a uma nação, este seria o quinto país mais poluente do mundo.

De outro lado, um relatório divulgado recentemente pelo Fórum Econômico Mundial, “Quantificando o Impacto das Mudanças Climáticas na Saúde Humana“, apontou que “até 2050, as alterações climáticas colocarão imensa pressão sobre a saúde global dos sistemas, causando 14,5 milhões de mortes e US$ 12,5 trilhões em perdas econômicas”.

Em outras palavras, ao mesmo tempo que o setor precisa fazer parte no campo ambiental – além de outras questões como a equidade e o acesso –, ele terá que se preparar também para potenciais aumentos de demanda pelos serviços em função de pessoas que terão problemas respiratórios por causa da poluição e de queimadas, aumento de arboviroses que deve acontecer por causa do desmatamento e o próprio prognóstico de ampliação de doenças crônicas como diabetes, doenças cardiovasculares e até mesmo do câncer – que tem acelerado principalmente em países de renda baixa e média.

Na visão de Viviane Mansi, especialista em comunicação e ESG, houve um crescimento em relação ao assunto, principalmente nos últimos anos, devido às preocupações com os negócios e as dúvidas sobre o futuro: “A natureza da incerteza está relacionada ao impacto do ESG. Vimos na prática o quanto afeta o negócio. Para ser bem-sucedido lá na frente, precisamos olhar para isso agora. O que antes parecia somente uma pauta, hoje já é muito mais.”

Estratégias de ESG

Não existe uma intervenção única capaz de resolver o problema, mas sim ações integradas e conduzidas a diferentes níveis. Segundo Mansi, não pode ser apenas uma conversa de RH. “É preciso ter o olhar para o negócio. Importante que seja política de empresa e não de uma área”, afirma Mansi.

A partir disso, a organização precisa observar sua realidade e o que pretende alcançar, explica: “É preciso olhar para os números. Às vezes a empresa não tem esses dados. Ao ter, é preciso entendê-los. Fazer um censo de diversidade para compreender a realidade da empresa. Se emite carbono, qual o impacto dos fornecedores, o que acontece quando o produto sai.”

Outro ponto levantado por Jorge Mazzei, diretor-executivo de relações corporativas, regulatório e diagnóstico da AstraZeneca, é o grau de maturidade das empresas, que está avançado, segundo ele, em um movimento global. Entretanto, há muitas iniciativas no mercado ESG sem visibilidade. Por isso, uma das estratégias é dar atenção ao tema: “Precisamos trazer fatos. Esse é o trabalho de toda uma cadeia para dar visibilidade, criar consciência. É necessário mostrar o impacto no sistema de saúde.”

Para ele, o tema está sendo levado mais a sério não apenas na área da saúde, mas na população em geral. Contudo, ainda é preciso que os projetos tenham continuidade: “Garantir que todos os interessados estejam na mesa e que não seja um trabalho de governo e sim de Estado. É preciso criar projetos de médio e longo prazo e parcerias de curto prazo.”

Uma alternativa para contribuir na mudança cultural foi adotada pelo Grupo Fleury: a empresa passou a utilizar metas de ESG como parâmetro de bonificação dos colaboradores. Para isso, em 2021 o grupo emitiu debêntures ESG pela primeira vez, no valor de R$ 1 bilhão, unindo a remuneração dos investidores com o cumprimento de metas sociais e ambientais.

Andrea Bocabello, diretora executiva de estratégia, inovação e ESG do Grupo Fleury, aponta ainda outro desafio nessa área: a descrença por parte de pequenas e médias empresas. Segundo ela, ainda existe uma falta de compreensão de como fazer e até mesmo uma percepção imatura do potencial em termos de transformação. Para ela, é fundamental compartilhar as experiências, tanto em ambientes universitários quanto fora deles: “As grandes empresas consomem das empresas pequenas.”

Mudança de perfil da liderança

Na opinião de Viviane Mansi, muitas companhias estão se movimentando para dar conta da demanda. É inclusive o que aponta o relatório “Um Mundo em Equilíbrio”, da consultoria Capgemini. O documento revelou que 57% dos executivos no mundo estão em processo de redesenhar o seu modelo de negócio para ser mais sustentável.

No Brasil, o estudo Grandes Mudanças, Pequenos Passos – Relatórios de Sustentabilidade, da KPMG, apontou que 86 das 100 maiores empresas em receita no Brasil estão incluindo em seus relatórios informações sobre suas práticas ESG. Dessas, 90% estabelecem metas para a redução de emissões de carbono.

“A mudança climática é uma situação crítica para o Brasil e o mundo. Como tornar o sistema de saúde sustentável e resiliente?”, indaga Mazzei, da AstraZeneca. Ele compartilha que a companhia adotou três pilares com ações concretas: acesso à saúde, proteção do ecossistema e ética e transparência. Dentre elas, a farmacêutica assumiu compromisso de ser carbono zero até 2030. Além disso, outra ação foi o investimento de mais de R$ 350 milhões em projeto de reflorestamento no Brasil.

Por outro lado, o levantamento “Líderes de Negócio do Brasil e ESG”, realizado pela Data-Markers em parceria com a CDN, ressaltou que apenas 16% dos executivos brasileiros têm conhecimento sobre os três pilares do ESG.

Embora os dados revelem uma crescente conscientização sobre a importância da sustentabilidade, ainda são necessárias novas iniciativas. Para Mansi, “algumas organizações erram por não saber o que fazer”. Por isso, acredita ser importante um olhar mais sistêmico sobre o tema e entender as variáveis de cada negócio, pois os desafios são complexos.

Um exemplo na indústria da saúde é o acesso às novas drogas terapêuticas: “Como criar um contexto que permita que chegue à população? O desafio é para o mundo”, indaga.

Adoção de tecnologia

A adoção de novas tecnologias pode desempenhar componente importante nesse panorama. A inteligência artificial (IA), por exemplo, pode automatizar registos de saúde, prever doenças e melhorar a eficácia geral dos medicamentos – o que, no fim do dia, pode ajudar a ampliar a capacidade de atendimento e o acesso.

Outro case do Fleury ilustra bem essa possibilidade. Em parceria com a ONG Gerando Falcões, o grupo desenvolveu uma cabine de saúde para que residentes das comunidades participantes do Projeto Favela 3D na Favela dos Sonhos, localizada em Ferraz de Vasconcelos (SP) tivessem acesso à telemedicina e equipamentos tecnológicos, que possibilitam a realização de ausculta cardíaca e pulmonar, avaliação da garganta e ouvido, monitoramento de sons estomacais e gastrointestinais, análise de imagens da pele, medição de temperatura corporal e frequência cardíaca.

Segundo a empresa, cerca de 50% da população da comunidade está sendo atendida e a cabine tem um índice de solução de demandas de quase 87% – evitando a sobrecarga do sistema de saúde público.

As inovações tecnológicas podem até mesmo contribuir para técnicas inovadoras de eliminação e reciclagem de resíduos médicos, onde tecnologias mais recentes estão sendo usadas para gerar componentes recicláveis e a utilização de fontes de energia renováveis.

“É preciso pensar coletivamente, tanto o governo quanto empresas, para serem agentes de criar e fomentar a pauta ESG e assim torná-la escalável e rápida. As parcerias são importantes”, destaca Bocabello.

Foto: Adobe Stock Image