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Com poucos testes no setor, aplicação do 5G avança lentamente na saúde

Falta de investimentos na saúde e dificuldades de conexão são vistos como entraves para avanço do 5G na saúde

Por Futuro da Saúde

A chegada do 5G no Brasil, com sua operação iniciando em julho de 2022, foi comemorada por diferentes setores por conta das possibilidade de utilização da tecnologia. Para a saúde, a velocidade e a menor latência eram vistas como ferramenta para transformar de vez a saúde digital no país, com possibilidades que vão de telessaúde a cirurgias remotas. Contudo, 2 anos após a estreia, pouco se avançou na aplicação do 5G no setor.

A análise dos hospitais é que com o baixo alcance e a falta de disponibilidade, o setor caminha com cautela nos testes com a tecnologia. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que até o final de 2023, apenas 20,5 milhões de brasileiros utilizavam a conexão 5G. Apesar de mais de 3 mil cidades estarem liberadas para receber sinal, ainda há pouca disponibilidade e oscilação.

Por outro lado, a saúde tem um ritmo próprio para incorporar inovações, o que via de regra é mais lento que outros setores. Por isso, testes iniciais seguem sendo feitos em situações de baixo risco para pacientes e profissionais de saúde. A ideia é que, provando a estabilidade e eficiência em cada etapa, seja possível avançar para coisas mais complexas.

No início de maio, o InovaHC, Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), anunciou um acordo com a Deloitte e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) para construir modelos de negócios para a utilização de rede própria 5G na saúde em áreas de vazios assistenciais. Os testes foram realizados no Alto do Xingu e ao longo de 2024 deve agregar novos parceiros para desenvolver projetos mais robustos.

Já o Hospital Sírio-Libanês testa a utilização do 5G no atendimento emergencial a casos de dor no peito. A unidade transmite pela conexão as informações do eletrocardiograma do paciente, levando as informações até a área de pronto-atendimento ou de cardiologia. Assim, é possível intervir antes da chegada ao hospital e preparar a equipe para receber o paciente.

O Hospital Israelita Albert Einstein desenvolve, em seu laboratório especializado, testes com 5G em teleconsultas, envio de exames de imagem e em uma unidade móvel, também para o envio de informações em tempo real aos profissionais do hospital.

“Está bem devagar o uso do 5G. Você vê poucos casos de uso, não vi nenhum caso na produção para testar para valer. Hoje os serviços rodam em sua maioria em 4G. Está atrasado nas possibilidades que existem. Ainda temos problemas de sinal e os hospitais também não fazem serviços nela por falta de disponibilidade da rede. Se nós não tivéssemos a nossa rede privativa, talvez não conseguiríamos testar o que já testamos”, afirma Marco Bego, diretor executivo do InovaHC.

Faça você mesmo

Pensando em não depender de provedores, o InovaHC desenvolve a sua própria rede 5G, chamada de OpenCare, em parceria com Itaú Unibanco, Siemens Healthineers, NEC, Telecom Infra Project (TIP), Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

“No leilão do 5G, a Anatel deixou uma frequência para fazer redes privativas. Começamos esse trabalho buscando uma frequência, criamos a nossa rede, usamos nosso datacenter e do Itaú para testar a tecnologia, para depois colocar os serviços de saúde nela. A nossa rede pode usar do jeito que desejar, não estamos concorrendo com o tráfego da operadora”, explica Marco Bego, diretor executivo do InovaHC.

Bego explica que os testes estão seguindo um cronograma do projeto. Até o momento, foram desenvolvidos testes com a utilização de ultrassom em tempo real, aproveitando a baixa latência da conexão. Por meio de treinamento de agentes indígenas de saúde, que realizaram o exame na ponta e se conectaram com médicos do HC, foi possível testar a eficácia da tecnologia.

Agora, o InovaHC firmou nova parceria com a Deloitte e USAID para construir um modelo de negócio, tornando a tecnologia sustentável, criando uma plataforma única, com interoperabilidade de dados via blockchain, a ser oferecida ao mercado e órgãos públicos. Neste momento, o núcleo está buscando parceiros para desenvolver novos casos de uso, mais robustos, no 2º semestre do ano. A expectativa é operacionalizar a plataforma do OpenCare até dezembro de 2024. 

“Queríamos fazer uma coisa que todo mundo usasse. Hoje, é muito caro para cada um fazer o seu, com investimentos em tecnologia, segurança e gestão. Se a gente compartilhar isso, é muito mais fácil. O HC não tem interesse nenhum em competir com o mercado, o objetivo é de criar esse ecossistema para melhorar a sustentabilidade da saúde digital”, explica Bego, que vê potencial para criar parcerias com o Ministério da Saúde e levar conexão aos serviços de saúde em áreas remotas.

Os testes até o momento também compararam o uso do OpenCare 5G ao uso de outros tipos de conexões, como 4G, 5G comercial e rede de satélites de baixa altitude. Apesar deste último se mostrar com velocidade aproximada, os custos e a falta de controle sobre conexão e segurança estão entre os pontos que justificam o uso da rede própria. 

Em relação ao potencial do 5G no Brasil, Bego observa que, apesar de já existiram casos de cirurgias à distância em outros países, o sistema de saúde brasileiro tem coisas anteriores que poderiam ser resolvidas, com custo-efetividade e modelo de negócio sustentável: “Existem coisas que no digital é muito legal, mas não tem quem pague por elas”, afirma.

Aplicação do 5G

Outro potencial para o 5G na saúde está em outra tecnologia que vem ganhando escala no mercado: a inteligência artificial. Com a possibilidade de transferir dados com maior velocidade, e computadores cada vez mais potentes para realizar o processamento deles, será possível realizar análises cada vez mais rápidas que podem contribuir com diagnóstico e tratamentos.

Rodrigo Demarch, diretor executivo de inovação do Hospital Israelita Albert Einstein, aponta ainda a utilização em outros segmentos, como a aplicação em Realidade Aumentada e Virtual para treinamento médico. Ele reforça que “a infraestrutura que está sendo criada pelas operadoras de telefonia móvel e empresas que começam a investir no 5G  é essencial para possibilitar uma gama de aplicações que o serviço promete oferecer”.

Em março de 2023, a Vivo foi responsável por habilitar a conexão 5G no laboratório do Centro de Ensino e Pesquisa do Einstein. O hospital desenvolveu suas provas de conceitos (POCs). Outra parceria, com a Embratel, foi firmada para analisar eficiência, segurança, agilidade e custo-efetividade. De lá para cá, a instituição vem desenvolvendo testes com o 5G em algumas áreas, como telemedicina, transmissão de procedimentos cirúrgicos e transferências de exames de imagens para laudos. Somente a conexão com a ambulância segue em fase final de avaliação – os detalhes e resultados ainda não foram divulgados.

Apesar do pouco avanço até o momento de modo geral, o diretor lembra que o 5G no Brasil está seguindo o acordo firmado em leilão. “Cerca de 2% dos compromissos foram atendidos, seguindo o cronograma estabelecido para o projeto nacional. Além disso, ainda esse ano, deverá ser alcançada a marca de cerca de 4% dos compromissos atendidos. Até 2030, 100% dos compromissos deverão ser atendidos”, ressalta.

Do menor para o maior

O uso em ambulâncias também foi o case escolhido pelo Sírio-Libanês. Conrado Tramontini, gerente de Inovação em Garagem do Hospital Sírio-Libanês, explica que “escolhemos a ambulância pensando no impacto da tecnologia, sobre o quanto precisamos do 5G. No primeiro momento, o volume de dados não é grande. A questão é ter a confiabilidade de ter isso em qualquer localização em São Paulo. Existe uma capacidade que o 5G entrega, mas o investimento de esforço para fazermos essa movimentação ainda não se justifica”.

Em parceria com a TIM e a Deloitte, o hospital vem testando a utilização do 5G para transferir dados de pacientes atendidos por uma ambulância conectada. A ideia é que a equipe acompanhe os dados de eletrocardiograma do paciente, para orientar os socorristas se necessário e se preparem para receber o paciente.

Os testes devem ocorrer ao longo de 2024 avaliando se a solução é eficaz e traz ganhos de eficiência ao serviço, reduzindo o risco ao paciente. Conrado aponta que, em alguns casos, a tecnologia pode trazer mais complexidade à dinâmica de atendimento, e por isso é importante testar se de fato traz mais vantagens que prejuízos.

É nessa direção que o gerente explica que, por lidar com vidas, a inclusão de tecnologias na saúde é lenta e gradual, indo dos menores cases para os maiores. A partir daí, é possível apontar se de fato resolve uma dor do setor e melhora a eficiência. O próximo passo do núcleo de inovação do Sírio-Libanês, segundo ele, é testar a utilização do 5G em outras possibilidades: “Temos avaliado cenários onde, por exemplo, controlamos um tomógrafo à distância e a latência é um desafio, mas ainda estamos validando.”

Atualmente, o 5G está em uso no hospital em videochamadas, análises prévias de pacientes e visualização de resultados de exames, mas são situações que não necessariamente demandam a tecnologia. “Ainda não vimos um grande case de 5G em saúde, porque ele vai acontecer de forma evolutiva”, afirma.

Foto: Reprodução

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